Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Descrição de chapéu pantanal meio ambiente

Heróis do meio ambiente precisam ser valorizados

Trabalho de servidores do setor contra incêndios é digno de medalhas

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Ao mesmo tempo em que nossos atletas empolgam o país com suas conquistas, servidores públicos do setor ambiental vêm fazendo um trabalho digno de medalhas. A atuação já resultou na extinção ou controle de 79% dos incêndios no pantanal.

De acordo com um boletim do Ministério do Meio Ambiente, dos 82 incêndios registrados até 29 de julho, 45 foram extintos. Dos 37 incêndios ativos na região, 20 já estão sob controle.

Pessoas vestidas com uniforme amarelo de pé. Ao fundo, fazenda com foco de incêndio
Brigadistas do Ibama de Corumbá combatem incêndio na fazenda Santa Fé, na região leste do município - Bruno Santos - 19.jun.24/Folhapress

De janeiro a julho deste ano o fogo já atingiu 688.125 hectares do bioma. No mesmo período, foram contabilizados 4.997 focos de calor no pantanal.

É um aumento de 1.593% em comparação ao ano passado, que teve 295 focos no mesmo período. Segundo o programa BDQueimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o índice é o maior desde 1998, quando foi iniciada a série histórica, superando o trágico ano de 2020.

Em 2020, a destruição do pantanal foi recorde. Quase 30% do bioma foi consumido pelas chamas, e 17 milhões de animais foram mortos. No entanto, agora, a quantidade de focos de calor é ainda maior.

Um foco de calor não é necessariamente um incêndio, ou seja, um fogo sem controle. Um incêndio pode ser causado tanto pela ação humana ou por causas naturais. No dia 27 de junho, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, afirmou que as queimadas vêm sendo provocadas pela ação humana e que 85% ocorrem em terras privadas.

Apontou ainda que Corumbá (MS) responde, atualmente, por cerca de metade (52%) dos incêndios em Mato Grosso do Sul e é o município que mais desmatou. Segundo a ministra, "os municípios que mais desmatam são os que mais têm incêndio".

Passado um mês da fala da ministra, após sobrevoar Corumbá, o presidente Lula sancionou na última quarta-feira, 31 de julho, o Projeto de Lei n° 1.818/2022, que institui a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.

O anúncio foi feito na base do Prevfogo/Ibama em Corumbá, ao lado de Marina, do governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e de outros quatro ministros. Na cerimônia, o presidente fez uma exaltação emocionada do trabalho dos brigadistas no combate ao fogo.

No entanto, nas redes sociais de Lula e Marina, vários comentários denunciavam a hipocrisia do momento, acompanhados das hashtags #reestruturaçãodacarreiraambiental e #sososervidoresambientaisfederais.

Há meses, os servidores públicos do setor ambiental iniciaram uma greve por melhores condições de trabalho. De acordo com Roberta Graf, líder da Associação de Servidores do Ibama e ICMBio no Acre (Asibama/AC), o sucateamento no setor ocorreu de forma crescente nos últimos dez anos.

Os servidores enfrentam tiroteios e sabotagens feitas por criminosos ambientais em sedes precárias, muitas vezes sem contar com veículos e internet em campo.

Roberta Graf aponta que hoje o Ibama conta com cerca de 3.000 servidores. Em 2007, eram 6.000. Os Estados Unidos, por exemplo, teriam 10 vezes mais servidores ambientais do que o Brasil.

Ainda que o governo tenha anunciado 440 vagas para o Ibama e o ICMBio em 2025, existiriam 4.042 vagas não preenchidas nos principais órgãos ambientais. Assim como os atletas brasileiros, nossos heróis do meio ambiente precisam ser mais valorizados.

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