Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

Marçal, o filho pródigo recusado por Bolsonaro

'Agradeço de coração por toda perseguição', ele disse. Spoiler: ele deve crescer nesse segmento.

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Por que Silas Malafaia, espécie de cardeal Richelieu do bolsonarismo, declarou publicamente que não quer o também cristão e conservador Pablo Marçal no protesto de 7 de setembro contra Alexandre de Moraes?

A atitude parece desesperada. Mencionar Marçal para sua audiência acaba promovendo ainda mais o candidato do PRTB. Segundo o Datafolha, Marçal está empatado com Boulos e Nunes na disputa pela Prefeitura de São Paulo e sua popularidade cresce enquanto a de seus oponentes diminui.

Marçal parece o filho pródigo recusado por Bolsonaro. O ex-capitão tem motivos para se sentir intimidado. Diferentemente dele, Marçal é jovem, nunca se divorciou, se veste e fala bem, conhece a Bíblia e não é inelegível.

Mesmo sem o apoio da bancada evangélica municipal e federal, Marçal tem 30% de intenções de voto dos evangélicos paulistanos. Essa contradição revela aspectos importantes do cristianismo evangélico no Brasil, que vão além da simplificação comum entre muitos da esquerda. Anote e reflita.

1. Evangélicos não obedecem cegamente seus pastores. O protestante é historicamente um insubordinado. Entre pastor e Bíblia, esse cristão escolhe a segunda opção. Desigrejado, o próprio Marçal defende que a igreja de Cristo é o próprio corpo, a casa em que se vive e o mundo onde se deve ir para pregar.

Pablo Marçal (PRTB) faz campanha na favela do Jaguaré, na zona oeste da cidade - Bruno Santos/Folhapress

2. As grandes denominações não representam a maioria dos evangélicos. A maior parte desses 70 milhões de brasileiros está em igrejas independentes de bairro, com até 200 membros, fora do controle das grandes lideranças. Esse grupo representa 71% dos evangélicos paulistanos (Datafolha).

3. Pastor e coach têm funções semelhantes. Evangélicos de igrejas históricas considerarão isso heresia. Mas ambos lideram, ensinam e ajudam a superar dificuldades, especialmente interiores. São comunicadores e guias.

4. A influência da teologia da prosperidade, característica do neopentecostalismo, parece ultrapassar o limite das igrejas que originalmente adotaram tal visão. A ideia é que Deus recompensa com bênçãos materiais quem supera suas dificuldades e limitações e é fiel a ele.

5. O cristianismo virou um estilo de vida, como também Marçal propõe. Ele atrai não apenas frequentadores de igrejas, mas "simpatizantes" que escutam louvores para se tranquilizar e seguem influenciadores como Deive Leonardo e Cláudio Duarte.

As próximas pesquisas dirão como evangélicos reagiram à notícia de que as redes de Marçal foram suspensas pela Justiça. "O povo de deus é o mais perseguido", ele disse a jornalistas. "Eu agradeço de coração por toda perseguição, porque me dá energia." Spoiler: ele deve crescer nesse segmento.

spyer@uol.com.br

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