Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Natureza é motivo de orgulho para maioria dos brasileiros

Meio ambiente e economia não são como água e óleo

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Nos últimos anos, muitas pesquisas procuraram explorar os fatores que condicionam a divisão política no país. Passou a ser algo corriqueiro compreender tal divisão como uma síntese da opinião pública. Brasileiros seriam como água e óleo a depender de suas escolhas eleitorais.

No entanto, existem valores profundos que nos unem, a despeito de nossas diferenças. A maioria das pessoas se guia por crenças mais estáveis do que opiniões expressas nas urnas, o que possibilita a criação de canais de diálogo e consensos sobre temas de extrema importância, como o meio ambiente.

Para compreender em maior profundidade tais valores, a organização Morada Comum, em parceria com a Quaest, realizou no ano passado mais de 4.000 entrevistas domiciliares. A partir de uma metodologia que procurou ir além de divergências político-partidárias e recortes demográficos padronizados, a pesquisa resultante, chamada Na Raiz do Brasil, organizou a população brasileira em sete grupos.

Trecho da floresta amazônica entre Manaus e Manicore, no Amazonas - Mauro Pimentel - 6.jun.22/AFP

Apenas dois grupos, "engajados progressistas", 8% dos entrevistados, e "defensores da pátria e da família", 10% dos entrevistados, têm posicionamentos consistentemente opostos. Os demais grupos se distanciam de polarizações. Para a maioria, os fatores que mais influenciam seu comportamento e forma de pensar são a religião (23%), o trabalho (18%) e o local de origem (18%). As pessoas que citam o posicionamento político como fator determinante são somente 7%, e mais da metade dos entrevistados (54%) é pouco ou nada interessada por política.

A pesquisa aponta ainda que a maioria sente que os valores da sociedade vêm passando por transformações aceleradas e está pessimista em relação ao futuro. Para 78% dos entrevistados, os valores da sociedade estão mudando muito rápido, e mais de 90% acreditam que o Brasil e o mundo estão cada vez mais perigosos. O futuro das novas gerações também é motivo de preocupação: 62% não acreditam que nossos filhos irão viver melhor do que hoje.

Ao mesmo tempo, 79% dizem ter orgulho de serem brasileiros, e o que mais inspira esse orgulho é a natureza (45%). A ideia de que é preciso proteger a natureza é uma norma social no Brasil. Quase a totalidade dos entrevistados (98%) concorda que é seu dever proteger a natureza para as futuras gerações. Além disso, 79% se dizem muito preocupados com as mudanças climáticas, e 76% apontam que tais mudanças são fruto da ação humana, o que distancia a maioria dos brasileiros do negacionismo climático. Há, ainda, um consenso a respeito da soberania nacional. Para 80% dos entrevistados, o Brasil deve ter poder de decisão sobre a Amazônia sem intervenção externa.

Porém, existem divisões importantes no que diz respeito à relação entre economia e meio ambiente. Ao mesmo tempo que 79% discordam da ideia de que é preciso crescer e reduzir a pobreza mesmo que seja preciso desmatar para isso, 37% dos entrevistados entende que a preocupação com o meio ambiente impede o desenvolvimento econômico, e 36% acreditam que defender interesses humanos é mais importante do que cuidar da natureza. Assim, ainda é preciso demonstrar, na prática, que meio ambiente e economia não são como água e óleo.

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