Começou a carreira nos jornais "Diário da Noite" e "Diário de S.Paulo". Chegou à Folha em 1984, onde foi repórter, redator, editor, secretário de Redação, diretor-adjunto de Redação, correspondente em Washington e ombudsman.
Aos mestres, sem carinho
A Folha tem tratado os professores do ensino público que ficaram em greve em São Paulo por três semanas sem nenhuma boa vontade. Posicionou-se em editorial contra a paralisação, publicou colunas agressivas contra eles e, no noticiário, tratou do assunto mais como empecilho adicional e desnecessário ao caótico trânsito da cidade do que como problema sério de políticas públicas.
Até aí, tudo relativamente bem. O jornal e seus colunistas têm pleno direito de manifestar as opiniões que julgam as mais acertadas. As páginas informativas, que nunca podem ser contaminadas pelas de opinião, não chegaram a se engajar em campanha contra os grevistas. De resto, a categoria dos professores do ensino público e seus representantes sindicais estão longe de não merecerem críticas.
A questão importante é outra. A greve é excelente oportunidade para a imprensa fazer levantamento detalhado das condições da educação, que a Folha desperdiça.
Dezenas de leitores se dirigiram ao ombudsman para reclamar da cobertura da greve. Nenhum a elogiou. Nas queixas, não identifiquei ranço ideológico ou partidário.
Há consenso nacional sobre a importância da educação para melhorar o futuro do país. Mas quando é necessário demonstrar concretamente esse compromisso, poucos dizem presente.
Para um jornal ir além da retórica precisa investir em reportagens minuciosas sobre os problemas que travam a melhora da educação.
Pelo que a Folha publicou desde o início da greve, não é possível concluir se ela foi justificável ou não.
Nem questões básicas, como o número de faltas permitido foram resolvidas (um leitor explica que são 32 faltas/ aula, cinco ou seis dias por ano, não 32 dias, como deu a entender o noticiário).
Não foi feita discussão profunda sobre o decreto que detonou a greve. Não se chegou nem perto de uma radiografia de dificuldades como: violência de alunos contra professores, existência de equipamento didático necessário nas escolas, incentivo para aperfeiçoamento profissional, tamanho de turmas em salas de aula, adequação de carga horária e currículo, acesso a internet, realização de excursões, qualidade de bibliotecas, laboratórios e salas de arte.
Não houve diagnóstico das condições salariais médias do professor: qual porcentagem de sua remuneração é salário e qual são bônus e gratificações, como se compara o pagamento do professor paulista com os de outros Estados e países, quantas horas semanais precisa trabalhar (em sala de aula e fora dela) para ganhar uma remuneração minimamente compatível com sua formação e a importância estratégica de sua profissão.
Pedi à Secretaria de Redação uma auto-avaliação da cobertura. Ela respondeu considerá-la "correta, mas é claro que sempre é possível melhorar". Disse ter sido este jornal que primeiro questionou o valor do reajuste anunciado pelo governo (foi de apenas 5,41%, não de 12% como apregoado). Sua resposta não me convenceu de que a Folha tenha ido bem.
Ou a educação é um tema prioritário para o jornal ou não é. Houve época, meados da década de 70, em que sem dúvida foi, apesar de muitos erros. Agora, não é mais. Deveria ser. A greve lhe dá uma chance para que seja de novo.
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