Começou a carreira nos jornais "Diário da Noite" e "Diário de S.Paulo". Chegou à Folha em 1984, onde foi repórter, redator, editor, secretário de Redação, diretor-adjunto de Redação, correspondente em Washington e ombudsman.
Não ir de notícia a esquecimento
A cobertura do terremoto no Haiti comprova o que o senso comum e a pesquisa científica indicam: gerar informação nova custa muito dinheiro, exige estrutura profissional experiente, não se faz na base de palpite e improviso, que é só o que se exige para postar opiniões na internet.
As chamadas redes sociais também demonstram nessa tragédia onde elas podem ser mais eficientes e relevantes: no esforço para mobilizar pessoas e levantar recursos.
O Projeto para a Excelência em Jornalismo, mantido nos EUA pelo Pew Research Center, divulgou nesta semana relatório sobre como Facebook, Twitter e blogs têm sido fundamentais para arrecadar milhões de dólares para entidades que ajudam vítimas em Porto Príncipe. A mesma organização tornou públicos no dia 11 resultados de pesquisa feita na cidade de Baltimore, segundo a qual 95% das informações novas em todo o ambiente da mídia local se originam nos jornais diários (principalmente) e nas emissoras de rádio e TV.
Ou seja, sem a velha mídia, blogs e seus sucedâneos não teriam muito do que tratar. O que mais eles fazem é reverberar o que os veículos tradicionais produzem. O caso do Haiti é muito sintomático. Quem é capaz de deslocar em 24 horas, como este jornal, quatro repórteres para um país em ruínas, em que a simples tentativa de desembarcar comporta riscos e custos imensos?
Desde quarta retrasada, a Folha tem mantido quatro pessoas lá. E elas têm feito um trabalho de alta qualidade nas circunstâncias mais adversas que se possa conceber.
Diante da imensidão das dificuldades e do preço pessoal que pagam (em desgaste físico, psicológico, emocional), impressiona como são poucas e pequenas as falhas perceptíveis em seu trabalho.
A edição tem valorizado os textos que os jornalistas no campo fazem, e as fotos, de excepcional beleza, como a que ilustra esta página e esteve na capa do jornal do dia 15.
Mas tem deixado a desejar, em minha avaliação, no que diz respeito ao aprofundamento das informações que eles geram. A esta altura, há dois temas que parecem centrais: a capacidade do Estado haitiano para reconstruir o país e qual deve ser o papel do Brasil ali em função de seu interesse nacional.
Têm faltado boas entrevistas, artigos, análises, interpretações para o leitor formar seus juízos de valor.
Ainda há tempo para recuperar esse terreno, e é até bom que haja muito a ser feito porque o maior erro que o jornalismo poderá cometer nesta situação será abandonar o assunto quando o impacto da tragédia passar.
"O Haiti não deve ser notícia hoje e esquecimento amanhã", como alertou o grande escritor Carlos Fuentes em artigo para "El País" nesta semana.
PARA LER
"Os Farsantes", de Graham Greene, tradução de Ana Maria Capovilla, ed. Globo, 2003 (a partir de R$ 34,27)
PARA VER
"O Dia em que o Brasil Esteve Aqui", de Caíto Ortiz e João Dornelas (disponível para locação)
Livraria da Folha
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