É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.
Bode expiatório
RIO DE JANEIRO - Sempre fui aclamado como um notável espírito de porco, em todos os sentidos. Em criança sempre torcia pelo bandido, quando vejo esses surfistas que aparecem na televisão, torço freneticamente pelas ondas. Sei que não agrado a ninguém, mas agrado a mim mesmo pelas canoas furadas que tomei e continuo tomando.
Tudo isso para confessar que não considero o Eduardo Cunha o vilão número 1 do nosso tempo. Qualquer catástrofe no catastrófico momento que estamos vivendo é atribuído a ele, até mesmo o desabamento da ciclovia de São Conrado, que matou pouca gente porque Eduardo Cunha não estava em seus melhores dias.
Desde os tempos bíblicos, as sociedades não podem passar sem um bode expiatório e não adianta jogá-lo ao mar como jogaram o profeta Jonas, um sujeito esperto que conseguiu se abrigar no ventre de uma baleia. Não estou insinuando que o Eduardo Cunha faça o mesmo, e pelo que sei não há baleias disponíveis em Brasília.
No passado tivemos um mega bode expiatório que era o Paulo Maluf. Nos tempos romanos tivemos Catilina, que abusou da paciência nossa - segundo Cícero e as gramáticas latinas. Aliás, é uma das primeiras manifestações do espírito de porco que me acompanha até hoje, tive um gato que batizei com o nome de Catilina. Ele realmente abusava da minha paciência.
No caso de Cunha não chego a tanto. Não o chamarei de Jonas nem de Catilina, não quero dizer que ele seja inocente, porque, na verdade ninguém é inocente, sobretudo dona Dilma. Cabe a ele e a ela provarem que não têm dinheiro na Suíça e nunca deram pedaladas fiscais.
Quando Pilatos colocou em leilão Barrabás e Jesus, a plebe rude escolheu Barrabás. Não quer dizer que prefira Cunha a Dilma. Mas ele não é responsável pelo dinheiro que o Brasil mandou para Angola e outros países.
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