Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Bolsonaro será um candidato antivacina?

Discurso anti-vaxxer dos bolsonaristas não é só ideologia

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A oposição de Bolsonaro à vacinação foi um fracasso político. A população foi se vacinar assim que teve a oportunidade. Continua indo, feliz da vida. Pesquisa recente do Datafolha mostrou que a maioria dos brasileiros acha que Bolsonaro "mais atrapalha do que ajuda" na vacinação de crianças.

Segundo o podcast "Papo de Política" da última semana, esse fato não passou despercebido em Brasília. Lideranças do centrão estão pedindo que Bolsonaro deixe de se opor à vacinação se quiser ser reeleito.

Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto - Evaristo Sa-4.fev.22/AFP

Faria sentido, e não só por questão de popularidade. O ex-presidente americano Donald Trump, por exemplo, defende a vacinação por um motivo simples: são os eleitores republicanos que estão morrendo por se recusarem a se vacinar.

Mas não vai ser fácil. Bolsonaro provou, por palavras e atos, que é um dos principais anti-vaxxers do mundo. Mesmo para um político profissional no nível moral tão baixo, não é fácil mudar de posição tão rápido sobre uma questão de vida ou morte.

Bolsonaro recusou-se a comprar vacinas que teriam salvado uma proporção grande, que mal começou a ser calculada, dos brasileiros mortos na pandemia.

Quando, ainda na fase de testes da vacina, um voluntário se suicidou, Bolsonaro declarou "mais uma que Jair Bolsonaro ganha". Em suas lives semanais, celebrou notícias falsas sobre vacinas, inclusive a de que elas causariam Aids. Nas redes bolsonaristas, extremistas como Bia Kicis divulgam protestos antivacinas ao redor do mundo com entusiasmo.

O discurso anti-vaxxer de Bolsonaro tem uma função. A cada notícia, falsa ou verdadeira, de efeito adverso das vacinas, os bolsonaristas veem uma chance de minimizar o crime de não as terem comprado, causando o maior assassinato em massa da história republicana brasileira.

No começo de abril de 2021, uma análise do economista Tomas Conti mostrou que 80% das vacinas aplicadas no Brasil ainda eram a Coronavac de João Doria e do Butantan. Maio de 2021 foi o primeiro mês em que a Coronavac do Doria não foi a vacina mais aplicada no Brasil.

Está documentado, portanto, que Bolsonaro deixou o Brasil sem vacina quando chegou a segunda onda da Covid, que matou o dobro de brasileiros da primeira. Por causa dele, mais de dois terços das mortes por Covid no Brasil aconteceram quando já havia vacina.

Por isso, o discurso anti-vaxxer dos bolsonaristas não é só ideologia, não é só discurso para a campanha; os bolsonaristas temem ir para a cadeia se seu crime for julgado. Buscam desesperadamente argumentos anti-vaxxers que possam utilizar como atenuantes em um tribunal.

Quando os ministros Damares Alves e Marcelo Queiroga, depois de dois anos ignorando as UTIs lotadas e as famílias de luto, foram a Botucatu visitar uma jovem que sofreu parada cardíaca após ter sido vacinada, estavam comemorando a descoberta de um álibi.

"Vejam", diriam, "Nós não compramos vacinas porque elas matam crianças". Não funcionou. A jovem sobreviveu e os médicos constataram que não foi a vacina que causou sua parada cardíaca.

Por isso não é fácil para Bolsonaro deixar de ser o candidato anti-vaxxer. Se Bolsonaro deixar de mentir que vacinas matam, vai ter que admitir que matou muita gente por não as ter comprado quando teve a chance.

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