Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Brasil votou como Ulysses Guimarães

Brasil votou como um país que merece ter Ulysses Guimarães entre os fundadores de sua democracia

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Com sua terceira vitória, Luiz Inácio Lula da Silva se consagra como maior vencedor de eleições presidenciais da história do Brasil. Lula também é o primeiro candidato a vencer um presidente em exercício, na eleição em que a máquina pública, do orçamento até a polícia rodoviária federal, foi aparelhada da forma mais vergonhosa da história.

Sua aliança com Alckmin foi a manobra política mais ousada da história de nossas eleições presidenciais, e deu certo. Qualquer outro presidenciável teria levado a virada de Bolsonaro quando o auxílio de 600 reais foi aprovado: Lula não levou porque seus governos anteriores lhe deram um imenso capital de credibilidade junto aos eleitores pobres. Enfim, é hora de a elite brasileira admitir que o maior talento político da Nova República nasceu pobre.

Seria, entretanto, errado atribuir o sucesso de Lula apenas a suas características pessoais.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Carolina Daffara/Folhapress

A vitória de Lula aconteceu porque a democracia funcionou bem o suficiente, por trinta anos, para permitir que um operário organizasse um partido de sindicalistas, se tornasse presidente da república e reduzisse dramaticamente a pobreza brasileira. Foi esse crédito de sucesso que a democracia tinha com os eleitores pobres brasileiros que derrotou o projeto autoritário de Jair Bolsonaro.

Os pobres salvaram a democracia brasileira em 2022.

Todos os atores relevantes na construção da democracia brasileira, do gigante FHC até a novata Tabata Amaral, estiveram do lado de Lula no segundo turno. Essa vitória é de todos eles, e torço para que o terceiro governo Lula também seja. Isso não diminui em nada, é claro, o imenso feito do Partido dos Trabalhadores, que sobreviveu à crise dos últimos anos melhor do que seus rivais porque soube construir uma base na sociedade civil que lhe permite sobreviver na oposição.

Finalmente, Lula se beneficiou de um erro absolutamente simiesco e vagabundo da direita brasileira: bancar Jair Bolsonaro em 2018. Quatro anos depois, em uma disputa entre um presidente e um ex-presidente, a campanha foi sobre comparar mandatos. O governo de Bolsonaro é muito mais comparável a um desastre natural ou à Peste Negra do que a qualquer outro governo.

Esse ano descobrimos o que é preciso para um presidente com a máquina na mão perder a reeleição no Brasil: centenas de milhares de brasileiros assassinados durante a pandemia, repetidas tentativas de golpe de Estado, quatro anos sem aumento real do salário mínimo, um orçamento secreto bilionário, tiro na polícia, confissão de "pintou um clima" com meninas de 14 anos e um adversário que era o ex-presidente mais popular da história. Aí ele perde por pouco mais que 1%.

Minha coluna da semana do segundo turno de 2018 se chamava "Vote como Ulysses", lembrando que, em 1989, Ulysses Guimarães apoiou um Lula muito mais à esquerda porque o achava melhor para a jovem democracia brasileira. Foi minha coluna mais compartilhada até hoje, mas, evidentemente, não convenceu gente suficiente.

Ontem o Brasil votou como Ulysses, votou como um país que merece ter Ulysses Guimarães entre os fundadores de sua democracia. Agora saberemos se Lula conseguirá governar como Ulysses gostaria de ter feito, assegurando a democracia e colocando-nos de volta no caminho do desenvolvimento.

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