Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Lula é o Brasil contra a máquina

Bolsonaro está usando a máquina pública como nenhum candidato jamais fez

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Curiosamente, o currículo de Jair Bolsonaro, que inclui o assassinato de centenas de milhares de brasileiros por asfixia durante a pandemia, a montagem de um orçamento secreto no valor de vários petrolões, diversas tentativas de se tornar ditador para roubar para si e para seus filhos encostados, quatro anos sem aumento real do salário mínimo enquanto o preço da comida disparava, a concessão de mais poder ao centrão do que ele jamais teve, a confissão de que entre ele e meninas de 14 anos já "pintou um clima" e a recente revelação do plano de Paulo Guedes para não aumentar salários nem aposentadorias, não foi suficiente para tornar o atual presidente da República o favorito para ganhar as eleições de 2022.

Para reverter esse quadro, Jair está usando a máquina pública como nenhum candidato até hoje jamais fez. Mudou a Constituição três meses antes da eleição para poder gastar mais dinheiro. Distribuiu bilhões adicionais pelo orçamento paralelo. Antecipou o pagamento de auxílios para antes da eleição (afinal, ele quer cortá-los logo depois). Em apenas três dias, liberou R$ 2 bilhões para empréstimos consignados do Auxílio Brasil, para pobres que não terão como pagá-los; e criou um mecanismo de incentivos para mulheres empreendedoras com prazo de inscrição que acaba pouco depois da eleição.

Como a Folha revelou na semana passada, o plano de Bolsonaro é pagar essa conta ano que vem confiscando o aumento do salário mínimo e das aposentadorias.

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e presidente Jair Bolsonaro (PL) durante debate entre os candidatos em São Paulo
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e presidente Jair Bolsonaro (PL) durante debate entre os candidatos em São Paulo - Mariana Greif - 16.out.2022/Reuters

Isso destruiria a popularidade de Bolsonaro já no próximo semestre? Sem dúvida, mas quem disse que ele pretende concorrer em outra eleição livre? Seu plano é matar a democracia brasileira nos próximos anos. Haveria um risco de grande crise social? Claro, mas Bolsonaro é louco por uma guerra civil que lhe sirva de desculpa para ampliar seus poderes. É possível que a investigação sobre abuso de poder econômico leve a um pedido de cassação da chapa de Bolsonaro se ele for eleito? Sim, mas para Jair isso é só mais uma coisa que pode ser usada como desculpa para o golpe.

Contra a máquina, concorre Lula.

Foi o democrata que sobrou em pé depois da devastação de Bolsonaro. Os candidatos da terceira via foram inviabilizados porque Bolsonaro cooptou os empresários e aliados políticos que poderiam apoiá-los.

Todos os bons candidatos da terceira via, dessa e de outras eleições, apoiam Lula no segundo turno.

É um pouco assustador o tamanho das tarefas que a história colocou nas costas de Lula. Em uma democracia estável, estaria desfrutando de uma aposentadoria tranquila. Mas a janela de renovação da política brasileira aberta entre 2013 e a Lava Jato foi desperdiçada com Bolsonaro, que só foi antissistema contra o que o sistema tinha de bom.

O sucesso de Lula em sua vida não foi só dele. Foi dos que lutaram por uma democracia em que um filho de migrantes nordestinos pudesse se tornar presidente da República e redistribuir renda, após passar 20 anos construindo um partido de sindicatos.

Da mesma forma, se Lula vencer domingo que vem, vencerá com toda essa gente. Unidos, vencerão os mesmos adversários de 40 anos atrás: os que, como Jair Bolsonaro, querem tirar dos pobres o direito de votar para que nunca mais tenham que se preocupar com o que os pobres querem.

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