Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Antipetistas devem votar em Bolsonaro?

Se os antipetistas bancarem Bolsonaro, o farão traindo seus melhores argumentos

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O antipetismo tem suas razões, mas nenhuma delas é razão para votar em Jair Bolsonaro.

Muitas vezes "antipetismo" é só preferência pela direita. Não há nada de errado em ser de direita, mas nessa eleição esse não é um bom argumento para votar contra o PT. Depois que Bolsonaro transformou a eleição em plebiscito sobre o golpe, toda a elite dos economistas liberais brasileiros já declarou voto em Lula.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) - Douglas Magno - 14.out.22/AFP

O antipetismo é mais comum na direita, mas se manifesta também no centro e até na esquerda. Em geral, trata-se de uma aversão aos escândalos de corrupção que ocorreram durante os governos do PT, ou ao apoio do PT a ditadores de esquerda como Nicolás Maduro.

O apoio a Maduro é mesmo indefensável. É o equivalente do apoio de Margaret Thatcher a Pinochet, uma afirmação de preferências ideológicas em detrimento dos valores democráticos. Se você não votar no PT contra, digamos, Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer ou João Amoêdo por esse motivo, é seu direito legítimo.

Mas Bolsonaro é como uma Thatcher muito menos competente que ainda por cima quisesse implementar o regime de Pinochet no Reino Unido. Se você se opõe ao regime de Maduro por convicção democrática, deve votar em Lula contra Bolsonaro.

O principal argumento do antipetismo são os escândalos de corrupção nos governos do PT. Eles existiram, você tem o direito de se indignar com eles, mas quem repetir discurso de 2015 em 2022 está mentindo.

A própria Lava Jato mostrou que o cartel das empreiteiras financiava as campanhas do PT como financiou as da direita por décadas, sempre em troca do direito de fraudar licitações. Isso, aliás, já havia sido dito por ninguém menos que Roberto Jefferson em seu livro de 2006, "Nervos de Aço", curiosamente negligenciado pelo discurso antipetista.

No clássico "A Organização", em que Malu Gaspar contou a história da Odebrecht, consta que o cartel foi descoberto pela esquerda no começo dos anos 1990 —por José Paulo Bisol, vice de Lula na campanha de 1989—, mas a direita conseguiu abafar o escândalo.

Finalmente, pergunte para os procuradores da Lava Jato que não viraram políticos quem matou a operação: foi Jair Bolsonaro. Os procuradores discordam bastante da tese de que Jair fez isso porque a corrupção acabou. Os principais aliados de Bolsonaro em 2022 são direitistas que foram denunciados junto com o PT, e hoje vivem uma era de ouro.

Um antipetismo que mantenha o discurso sobre corrupção de 2015 após tudo o que o Brasil viveu depois que o PT saiu do governo é apenas uma estratégia para ajudar ladrões de direita a fugir da prisão.

Claro, se você, de fato, quer ajudar ladrões de direita a fugir da cadeia, aí sim, pode apertar 2, 2, priiii, e partir para o abraço.

Ninguém é obrigado a gostar do Partido dos Trabalhadores. Mas os argumentos que funcionam para justificar voto na direita democrática contra o PT simplesmente não funcionam para justificar o voto em Jair Bolsonaro. Nos últimos anos, Jair provou que é um risco de chavismo pior do que o PT e uma ameaça maior ao combate à corrupção do que o PT.

Entendo inteiramente que, para um brasileiro de direita, seja deprimente votar no PT. Mas se os antipetistas bancarem Jair Bolsonaro, o farão traindo seus melhores argumentos e dando vazão a seus piores sentimentos.

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