Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Quanto vale um golpismo fracassado?

Denúncias contra bolsonaristas mal começaram; não é à toa que essa turma queria tanto o golpe

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Valdemar Costa Neto, presidente do partido de Jair Bolsonaro, declarou que "todo mundo" tinha em casa documentos como a minuta do golpe encontrada na residência do ex-ministro Anderson Torres (Justiça).

Com seu depoimento, o presidente do PL deixou claro que a mobilização golpista envolveu muito mais gente no último governo além de Bolsonaro e Torres. As autoridades devem investigar quem era o "todo mundo" do Valdemar.

Por essas e outras, aliados já começam a se perguntar se a proximidade com Bolsonaro não está tornando Valdemar tóxico.

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O ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), com o presidente do seu partido, Valdemar Costa Neto, ao fundo, durante cerimônia no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 28.jan.2021/Folhapress

Todo mundo no PL topa aguentar 20 ou 30 bolsonaristas mentindo sobre vacina se isso lhes render mais dinheiro do fundo partidário. Porém, se os bolsonaristas se tornarem chamariz de polícia, a coisa vai mudar de figura: muita gente ali, como o próprio Valdemar, já teve experiências difíceis com as forças da lei.

E as denúncias contra os bolsonaristas mal começaram. Não é à toa que essa turma queria tanto o golpe: assim que perderam o poder de distribuir verbas e cargos públicos, a blindagem que os protegia evaporou.

Vejam, por exemplo, o caso da senadora eleita Damares Alves.

Wellington Macedo de Souza, um dos terroristas que tentaram explodir um caminhão no aeroporto de Brasília na véspera de Natal —vamos lá, leia essa frase de novo, leia em voz alta— trabalhava como assessor em seu ministério.

Se isso já não fosse ruim o suficiente, Damares pediu que Bolsonaro vetasse o envio de água potável aos yanomamis —novamente, vamos lá, leia de novo, leia em voz alta— a tribo indígena que encerrou o debate sobre a possibilidade de chamar Jair Bolsonaro de genocida.

Ou seja, Damares já começará seu mandato suspeita de ter acobertado terrorismo e promovido genocídio, sob ordens de um presidente que adora colocar culpa em mulher.

O corrupto médio do PL facilmente roubaria 10% da água dos yanomami e venderia uma bomba superfaturada para o terrorista do aeroporto, mas ele não quer estar em foto que pode parar na Corte Internacional de Haia.

Damares não é, nem de longe, a única bolsonarista do PL em maus lençóis. Deputados como André Fernandes (PL-CE) e Silvia Waiãpi (PL-AP) já são investigados pela Procuradoria-Geral da República por incentivarem a Intentona Bolsonarista do dia 8.

Mas não é só o PL que está tendo dificuldade em transformar o golpismo em capital político "normal".

Recentemente, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, mentiu que o governo Lula deixou a Intentona Bolsonarista acontecer para lucrar politicamente com isso.

Zema cogita deixar o Partido Novo, mas é daquela facção do partido que só não foi no golpe porque mamãe não deixou sair sem casaco.

Ao mentir sobre um assunto tão sério, o governador mineiro deixou claro que quer liderar a direita pós-Bolsonaro, mas aceita liderá-la do jeito que ela está; não tem a coragem necessária para conduzi-la de volta à democracia.

Tanto o PL quanto políticos como Zema estão tentando utilizar o patrimônio eleitoral do golpismo para ganhar votos e verbas dentro da política institucional normal. Mas, se a lei for aplicada e as instituições voltarem a funcionar, ambos podem descobrir que têm nas mãos o equivalente político de dívida das Lojas Americanas.

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