Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu Governo Tarcísio

Plano fiscal de Tarcísio descrito em editoriais é o que Haddad já faz

Se o que governador de SP propôs está certo, a bancada bolsonarista vota errado

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Nos últimos dias, os três maiores jornais do país, inclusive esta Folha ("Plano de SP prevê o que todos deveriam fazer", dia 24 de maio), O Globo ("São Paulo mostra a Brasília como fazer ajuste de gastos", 27 de maio) e O Estado de S. Paulo ("São Paulo aponta o caminho das pedras", 24 de maio), escreveram editoriais apoiando o plano de ajuste fiscal anunciado pelo governador Tarcísio de Freitas e contrastando-o com um suposto desinteresse do governo Lula pelas contas públicas.

Esse contraste é falso.

Nesses debates, é sempre bom que as propostas sejam acompanhadas de números e estimativas. Os editoriais da Folha e do Globo citam duas estimativas, o dobro do número apresentado no editorial do Estadão.

Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo - Danilo Verpa - 6.mai.2024/Folhapress

A primeira é um cálculo do que São Paulo economizará com a revisão de benefícios fiscais. É exatamente a mesma coisa que Haddad está fazendo no governo federal, com a diferença de que Tarcísio começou a mexer nisso com um ano e meio de atraso. Acho bom que Tarcísio reveja privilégios fiscais, pelos mesmos motivos que apoio a política econômica de Haddad.

Agora, quando Haddad leva essas propostas para o Congresso, os amigos bolsonaristas de Tarcísio votam contra a revisão dos privilégios. Se o que Tarcísio propôs está certo, a bancada bolsonarista vota errado. O governador de São Paulo vai dar a ordem para que votem diferente? Ou nem essa margem de manobra Jair lhe dá?

A outra estimativa presente nos editoriais é a redução da dívida por renegociação com o governo federal. Ou seja, parte grande do plano de Tarcísio que os editorialistas defenderam como contraste com a política de Haddad consiste em pedir dinheiro ao Haddad.

Talvez faça sentido renegociar a dívida paulista, mas se renegociar dívida conta como rigor fiscal, um monte de gente na esquerda merece pedidos de desculpas do mercado.

No que se refere a corte de gastos, não há nada específico no plano de Tarcísio, mas isso é bom. Cortes de gastos, como investimentos, têm que ser bem planejados. Tarcísio anunciou que haverá estudos para saber onde dá para cortar. Está certo.

Mas no âmbito do governo federal o ministério de Simone Tebet já vem fazendo isso desde 2023. Se o editorialista do Estadão reclama que Lula não ouve as propostas da ministra sobre desvinculação do piso da Previdência, deveria, ao menos, ouvi-la sobre o trabalho que vem sendo feito.

E aí chegamos no ponto principal: os editoriais estão mostrando Tarcísio fazendo, com um ano e meio de atraso, o que Haddad já faz, enfrentando a oposição bolsonarista; e estão usando isso para pedir que Haddad faça coisas incomparavelmente mais difíceis politicamente (e arriscadas), como desvincular o piso da Previdência do salário mínimo ou revisar os pisos de gastos com educação e saúde.

A propósito: se Lula fizer, digamos, a desvinculação do piso da Previdência, o que circulará nos grupos de WhatsApp das igrejas que apoiam Tarcísio? "Realmente, o varão está preocupado com as contas públicas"? Ou "Lula mata velhos para implantar comunismo"?

Todo mundo tem o direito de apoiar quem quiser para presidente. Mas este governo descrito nos editoriais, que se preocupa mais que Haddad com as contas públicas, não é o governo Tarcísio. É um governo imaginário, que não ganhou eleição em lugar nenhum.

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