Cida Bento

Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

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Cida Bento
Descrição de chapéu transição de governo

Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida...

A diversidade não se reflete em quem pensa e projeta o futuro

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A fé, a esperança, a garra e o amor pelo Brasil trouxeram o país até aqui.

Quando tudo parecia sem saída, em meio a uma avalanche de fake news, ao uso do poderio da máquina pública, à truculência, à reivindicação de intervenção militar que parece ter contado com apoio de fatia significativa de empresários e à ameaça de golpe, a saída se instituiu, e temos um novo governo eleito.

Assim é que o Brasil se encontra em pleno processo de transição para um governo que promete pacificar o país sem amordaçá-lo e conduzi-lo no caminho da democracia. E de novo tudo parece desolador. Ministérios que deveriam cuidar de áreas centrais, como saúde, educação, trabalho, moradia e segurança pública, completamente sucateados (como pesquisas já mostravam) e sem orçamento para 2023.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante comício no Grajaú, na zona sul de São Paulo
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante comício no Grajaú, na zona sul de São Paulo - Danilo Verpa - 24.set.22/Folhapress

Cabe à população recorrer a seu axé, à força vital que a movimenta, na qual também se encontra a confiança nos coletivos que caminharam juntos e que estão espalhados pelo país. E assim se vai enfrentando o desalento, de ver o novo governo tendo que negociar com uma parcela do Parlamento habituada com o "toma lá da cá".Nessa ocasião, é importante lembrar que, se houve grupos que apostaram na democracia e se mantiveram firmes no voto ao presidente eleito, estes são sobretudo de pessoas mais pobres, nordestinas, femininas, negras, indígenas e quilombolas.

Essa parcela da população precisa permanecer firme, visível, audível, apropriada do importante diferencial que teve na condução de Lula à Presidência. "É preciso estar atento e forte" porque também no campo progressista vão ter que enfrentar instituições funcionando para que algumas coisas "mudem sem mudar".

Enfrentar estruturas nas quais os lugares de comando e a decisão mais importantes são, há séculos, majoritariamente masculinos e brancos. O que significa a predominância de visões de mundo, de jeitos de interpretar a realidade, de definir prioridades, de escolher evidências que vão orientar a tomada de decisões, para cá ou para lá. O legado desse grupo, suas decisões incidindo na vida de um país onde 4/5 da história foi vivida sob a égide da escravidão negra e na qual a maioria da população é negra.

Assim é que as soluções precisam ser pensadas, debatidas e decididas em coletivos ricos em diversidade que não só "opinam" mas têm a "caneta da decisão" na mão. Coletivos que reconheçam que raça e gênero são estruturantes das desigualdades brasileiras e são marcadores importantes para orientar as escolhas governamentais.

Na educação, por exemplo, algumas redes vêm mapeando uma fartura de profissionais qualificados espalhados pelo país, com formação e experiência pedagógica e de gestão, que podem auxiliar o novo governo nos inúmeros desafios que se apresentam.

Mas as notícias que acompanhamos nos jornais não são boas. Parece que as prospecções sobre as escolhas das altas lideranças para governar as instituições brasileiras podem caminhar para nos levar ao padrão "mais do mesmo": um país marcado pela diversidade e majoritariamente negro, onde essa multiplicidade não se reflete em quem pensa e projeta o futuro.

E é assim que as desigualdades vêm se consolidando e se perpetuando ao longo da história deste país. Urge mudar o rumo dessa prosa. A pluralidade propicia a justiça, a tão propalada democracia, a renovação, não só de perfis mas de ideias, de sonhos e que pode efetivamente contribuir para um futuro no qual a confiança na política e em políticos possa ser restaurada.

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