Cida Bento

Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

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Tragédia se abate sobre a população negra

É preciso refletir sobre como denúncia de assédio pode nos ajudar a buscar soluções

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Foram intensas, nos últimos dias, a tristeza e a perplexidade de pessoas e de organizações negras diante da difícil e delicada situação que envolveu duas das principais autoridades federais negras brasileiras.

Muito se escreveu sobre essa situação caracterizada por denúncias de mulheres sobre assédio sexual e moral, entre elas a da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, contra o então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Desde que essa tragédia se abateu sobre a população negra, muitas de nós conversamos intensamente nas redes sociais. Aliás, várias de nós fomos muito procuradas por meios de comunicação para falar sobre isso, mas tínhamos antes de conversar entre nós.

Anielle e a primeira-dama, Janja - MAURO PIMENTEL/AFP

A solidariedade com as mulheres que sofreram o assédio sexual e moral foi incondicional por parte das que estavam dialogando e um destaque grande foi dado à solidariedade com as negras, porque elas somam 78% dos casos de violência sexual no país. Ou seja, são particularmente atingidas por esse tipo de violência.

Também esteve muito presente nas conversas a exigência de que sejam apurados todos os fatos com o mais alto rigor. Esse foi um comportamento comum de todas nós que nos manifestamos em notas públicas. Mas também fez parte dessas conversas o diferencial desse caso ao envolver duas das mais altas autoridades negras do governo federal, ambas ocupando lugares pelos quais o movimento negro e de mulheres negras muito lutou, o que impacta a população negra. Sendo ambas pessoas negras, sabemos que o racismo pode se manifestar nesse processo tanto contra ela quanto contra ele, e temos de estar atentas.

Me senti atingida como mulher negra e como parte de uma família majoritariamente masculina e negra. Nesse sentido, a masculinidade negra está na preciosa história familiar que construí ao longo da vida. Ou seja, temos potencial para ser muito afetados pelo caso que envolve nossas lideranças negras, pois o olhar histórico de desconfiança contra os homens negros pode ser ainda mais reforçado. Por isso, o nosso foco deve estar em refletir sobre como essa ocorrência pode nos auxiliar a buscar soluções, enquanto comunidade.

Consultei o Programa Federal de Prevenção e Enfrentamento do Assédio da Discriminação no Âmbito da Administração Pública Federal Direta, Autárquica e Fundacional, que foi lançado em 31 de julho, quando denúncias já vinham ocorrendo. O programa pode contribuir para que se evitem e/ou se realize o atendimento de casos como esse. Provavelmente, ainda em fase de implementação, ele merece ser aprimorado a partir desse caso. Vale refletir sobre como as masculinidades, na sua diversidade, podem ser incluídas como parte dos conteúdos, metodologias de operacionalização, e principalmente do público que deverá vivenciá-lo.

Que esse caso, ainda que triste, seja um farol para nos repensarmos enquanto sociedade e comunidade a fim de alcançarmos o bem viver.

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