Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
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Ator hétero e branco reclama que 70% dos papéis são para atores héteros e brancos

Reservaram 30% das colunas às mulheres, o que mostra claro preconceito contra os homens

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Caros leitores,

Tomo emprestado o espaço da coluna da autora para manifestar minha indignação: não há mais espaço na mídia para pessoas como eu, homens brancos e heterossexuais.

A princípio, a dona da coluna reclamou. Mas então eu a chamei de louca e mal-amada e sugeri que se medicasse.

Agora, cá estou eu para registrar meu protesto contra essas tais políticas de igualdade —que, sejamos honestos, é só um nome bonitinho para o mi-mi-mi da lacrolândia. Hoje só escalam para novelas mulheres, gays, negros e indígenas. Não estão sobrando vagas para homens normais, ainda mais os que, como eu, são loiros, de olhos claros e bonitos.

Nem neste jornal eu consegui espaço para publicar meu artigo. Mas também, né? Reservaram 30% das colunas às mulheres, o que mostra um claro preconceito contra os homens, ainda mais os bonitos e sarados que tomam creatina.

O status quo mudou completamente. A nova novela das nove, por exemplo, tem apenas quatro protagonistas héteros e brancos. Só um com olhos azuis. O resto foi entregue de bandeja a duas mulheres. Ou seja, não sobrou nenhuma vaga para mim.

Na ilustração de Galvão Bertazzi temos um homem, loiro e de bochechas rosadas. Ele está sendo pisoteado por um gigante trajando calças com as cores do arco íris e um lindíssimo sapato cor de rosa. O homem pisoteado chora de tristeza e segura uma placa onde se lê: Branco hétero top procura emprego
Galvão Bertazzi/Folhapress

Eu tenho apenas dez chances por novela. Aí colocam um Selton Mello, um Antonio Fagundes, ignorando minha trajetória de duas décadas de "Malhação". Também fui um dos protagonistas da novela "Mutantes", uma grande referência da dramaturgia brasileira.

Outro dia, perdi um papel para o Wagner Moura. Disseram que ele é premiado, internacional, blá-blá-blá. Mas é porque ele não é tão bonito. Beleza fecha as portas.

No meu tempo, conseguia até fazer papel de gay. Hoje dão esses papéis para atores gays, dizendo que eles são talentosos. Homem hétero não pode nem mais se vestir de mulher. É uma pena, porque homem vestido de mulher é muito mais engraçado.

O pior é que descobri que todas as minhas amigas eram, na verdade, homens héteros vestidos de mulher. Fica aí meu protesto e meu pedido para que os políticos conservadores que estão chegando possam criar cotas para homens brancos, héteros e bonitos.

Nota de esclarecimento: Caros leitores, aos que se sentiram ofendidos, peço desculpas. Minhas falas foram tiradas de contexto. Quem me conhece sabe que eu adoro mulheres, gays e negros. Tanto que minha melhor personagem é uma mulher lésbica e negra.

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