Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Eleições e o risco do populismo

Cabe a nós pressionar pré-candidatos para que apresentem propostas consistentes

Polarização faz com que mensagens de candidatos sejam filtradas por convicções fortes demais para ouvir propostas concretas
Polarização faz com que mensagens de candidatos sejam filtradas por convicções fortes demais para ouvir propostas concretas - Diego Herculano - 26.set.16/Folhapress

À medida que maio vai chegando ao fim, aproximam-se rápida e perigosamente as eleições. Ao integrar o grupo de pessoas que olham o cenário político com certo temor, creio ter chegado o momento de apontar mais claramente alguns riscos a serem enfrentados.

A polarização que vivemos, fruto em parte de erros cometidos por nós e de outra de um clima presente em boa parcela do mundo, faz com que as mensagens que os candidatos queiram transmitir sejam filtradas por convicções fortes demais para ouvir propostas concretas, que lidem com a realidade orçamentária ou com as dificuldades de implementação.

Num certo sentido, é como se tivéssemos nos infantilizado, não aceitando nada menos do que a promessa do paraíso na Terra e, sobretudo, o aniquilamento dos que pensam diferente de nós. Alguns, mais prudentes, buscarão seus candidatos entre pessoas com experiência em políticas públicas, mas o cenário é tão incerto que tampouco isso nos protege de um futuro incerto.

O clima certamente prejudica uma análise criteriosa de propostas alternativas e leva a uma defesa cega de posições simplistas, o caldo de cultura perfeito para extremismos de um lado ou de outro. 

Isso aumenta a tendência de candidatos proferirem frases prontas ou clichês que não querem dizer nada ou de falarem truísmos que possam ser percebidos como verdades profundas quando ditas na linguagem de crianças de dez anos.

“Cada era tem seu próprio fascismo”, dizia Primo Levi, na frase recuperada por Madeleine Albright em seu livro recente “Fascism: a Warning”. 

O fascismo, segundo ela, adquire sua força de homens e mulheres que têm uma sensação de que seu país vive um pronunciado declínio. Quanto mais penoso o ressentimento, mais fácil para um líder populista ganhar seguidores apresentando a possibilidade de renovação ou prometendo trazer de volta o que se crê que teria sido roubado. 

Para evitar isso, cabe a nós tentar pressionar para que se tragam propostas de políticas públicas consistentes. Não podemos deixar que, aos moldes do que ocorreu nas eleições de 2016 nos Estados Unidos, o tema central dos debates sejam emails ou qualquer pretenso malfeito de algum dos candidatos e não o que pretendem para cada política pública.

Nesse sentido, é promissora a iniciativa do movimento Todos pela Educação chamada Educação Já, que busca inserir propostas para melhorar a qualidade da educação brasileira nos programas dos candidatos e nos debates, com base em uma agenda claramente delineada que inclui ações a serem adotadas pelos governantes, já no começo de suas gestões. 

Afinal, chega de populismos!

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