Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Investir no professor, o papel da prática profissional

É vital ensinar a teoria em qualquer profissão, mas pouco se aprende sem atuação laboratorial

Professora em sala de aula em escola municipal em Santana de Parnaíba (SP)
Professora em sala de aula em escola municipal em Santana de Parnaíba (SP) - Joel Silva - 12.dez.12/Folhapress

Em premiado livro, “Sem Causar Mal”, o neurocirurgião inglês Henry Marsh relata sua prática profissional e alguns dilemas éticos a ela associados. Muitas das experiências descritas referem-se ao trabalho de introduzir novatos à profissão, que assistem às cirurgias ou assumem, sob supervisão, partes de procedimentos.

Ao ler a obra, chamou-me a atenção a brutal diferença do que Marsh descreve com o que hoje ocorre na formação de professores. 

Considero a preparação profissional de futuros mestres tão ou mais importante que a de neurocirurgiões, já que uma prática inepta pode ter consequências por toda a vida. No entanto, relega-se muitas vezes a práxis a um status secundário na formação docente, como se fosse uma exigência burocrática para concluir o curso. 

Mas isso não era assim no passado. No antigo curso normal de nível médio, extinto em muitos estados, a aluna assumia trechos da aula, sob o olhar atento da professora titular, e registros de sua prática incipiente integravam (e em países com bons sistemas educacionais ainda integram, embora isso ocorra na graduação ou no mestrado profissional) um dossiê que poderia habilitá-la como professora.

Por que então este menosprezo pela prática profissional? Evidentemente, é vital ensinar a teoria em qualquer profissão, atualizada com os achados mais recentes da pesquisa científica na área. Mas sem prática laboratorial ou no ambiente de atuação futura, com a possibilidade de discutir com os mestres na universidade as dúvidas e os desafios encontrados na cena de trabalho, pouco se aprende do ofício.

Talvez haja aqui uma certa confusão sobre dois conceitos interligados: o papel do professor e a pesquisa em educação.

O professor de educação básica não é um mero estudioso ou intelectual (não orgânico) da educação. Ele forma novas gerações e a universidade que hoje prepara os novos mestres torna-os também pesquisadores, mas não sobre as teorias gerais de pedagogia, e sim sobre seus alunos e sua prática. 

Entender como cada aluno aprende, as características de cada um e as competências que deve desenvolver para prosperar na aprendizagem demanda um trabalho cuidadoso de pesquisa e a seleção de procedimentos apropriados. 

Isso se cultiva observando ótimos professores ao longo da formação, num bom uso dos estágios probatórios (que hoje infelizmente são meras exigências não levadas muito a sério) ou no desenvolvimento profissional docente.

O que Marsh faz com seus pupilos deveria certamente ocorrer com cada professor, antes que ele assuma uma turma e, depois que o fizer, para que possa de fato crescer profissionalmente. 
 

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