Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Uma agenda para o país

Uma coisa é querer destruir o inimigo, outra é mudar os rumos de políticas públicas

Urna eletrônica; pensamos em candidatos, e não no que pretendem fazer para aperfeiçoar as políticas públicas
Urna eletrônica; pensamos em candidatos, e não no que pretendem fazer para aperfeiçoar as políticas públicas - Alan Marques - 3.out.14/Folhapress

Vivemos um momento curioso no cenário eleitoral: falamos de pessoas, mas não de competências demonstradas para resolver os problemas do país, pensamos em candidatos, e não na agenda que pretendem implementar ou no que pretendem fazer para aperfeiçoar as políticas públicas. É como se buscássemos um líder genial das massas ou alguém por quem nos apaixonássemos, e não um Brasil mais desenvolvido e menos desigual.

As redes sociais, em que atuo cotidianamente como ativista digital em prol de uma educação de qualidade, estão vociferando pela derrota do grupo inimigo e não trazem propostas para superar os impasses (que não são poucos) —e é essa voz que será ouvida pelos candidatos. 

A complexidade da realidade vê-se, neste contexto, reduzida a disputas entre torcidas, em processos simplificadores tão propícios à emergência de populistas que se colocarão contra “tudo isso que está aí”.

Outros grupos ameaçam sair do Brasil, sem perceberem que são exatamente essas atitudes que geram a impossibilidade de alternativas para o país, numa postura que revela descompromisso com o que ocorre com os que não lhes são iguais, já que não podem fazer o mesmo. 

Há ainda a perspectiva dos que querem vingança e não corrigir erros percebidos. Entendam, trata-se de coisas diferentes: uma coisa é querer destruir o inimigo, outra é mudar os rumos de políticas públicas percebidas como incorretas.

Mas qual deveria ser uma agenda que nos faria sair desta situação? Arrisco propor três ideias para começar o debate.

Uma delas é profissionalizar a administração pública. Uma carreira importante do governo federal é a dos especialistas em políticas públicas, que podem ter desempenho em diferentes ministérios e, dada a atratividade da carreira, com boa remuneração e respeitabilidade, trazem continuidade em iniciativas e proteção contra fisiologismos. Essa carreira deveria ser criada (e, em alguns casos, revitalizada) em governos estaduais e, futuramente, municipais.

Outra ideia seria pôr as universidades federais, como já ocorre em alguns estados, no Ministério da Ciência e Tecnologia, onde poderiam desempenhar papel importante no desenho e promoção de um novo modelo de desenvolvimento, ao se conectarem mais com as reais necessidades do país.

Finalmente, na educação básica, investir numa formação inicial e continuada do professor mais vinculada com uma práxis colaborativa, a partir do chão da escola, em que ensino e pesquisa estejam associados ao que os alunos precisam para desenvolver todo o seu potencial. Educação de qualidade, afinal, constrói-se com altas expectativas para todos.
 

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