Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Médicos e professores

A formação de professores tem processos completamente dissociados da prática profissional

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Há muito tempo venho me perguntando por que pensamos a formação de futuros médicos como algo que demanda um intenso caráter profissionalizante mas não fazemos o mesmo com os cursos de pedagogia e licenciaturas, como se preparo profissional fosse algo menos nobre nestes casos. Explico-me: para o exercício da medicina, os estudantes, desde o início do curso, frequentam o hospital universitário, observam procedimentos, vão progressivamente assumindo, sob a supervisão de médicos experimentados, parte de procedimentos terapêuticos, antes mesmo da residência médica que completa sua formação.

Além disso, existem na prática médica protocolos estabelecidos para tratar diferentes doenças que um profissional muito experiente pode desconsiderar em casos-limite, mas que, na sua área de especialização, conhece bem. 

Nada mais diferente do que a formação que hoje recebem futuros professores. Embora se trate de uma das profissões mais complexas e relevantes, ela conta com processos de formação completamente dissociados da prática profissional. Algumas universidades até têm escolas de aplicação, para a aprendizagem profissional de seus estudantes de licenciatura, mas a realidade social dos alunos é bem diferente do que se encontra em escolas públicas.  Nos cursos de pedagogia, o enfoque é basicamente teórico, e não se ensinam, na ausência de protocolos sobre o que é bom ensino, a alfabetizar, a incluir crianças com deficiência ou a raciocinar matematicamente. 

Mas isso pode mudar. Há uma oportunidade grande, neste momento em que o Conselho Nacional de Educação abriu uma consulta pública para as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de formação de professores da educação básica. 

Elas vão na direção correta e apontam um caminho para a profissionalização. Temos mesmo que estabelecer que a profissão de professor deve ser levada a sério, como fez o Chile, o melhor país da América Latina no Pisa. Depois de elaborarem, antes de nós, um currículo nacional sólido, fecharam cursos de pedagogia de qualidade questionável, definiram referenciais da profissão para nortear a formação, elevaram a nota de corte no exame de acesso aos cursos de formação docente e vincularam o ensino à presença atuante em escolas públicas, no caso da Universidade Diego Portales, desde o primeiro semestre de aulas.

Mas, para tanto, deveríamos incluir uma limitação, não prevista nas DCN abertas à consulta, ao tempo de ensino à distância (EaD) na carga horária dos cursos. Ninguém formaria um neurocirurgião exclusivamente por EaD. E professores também “operam” cérebros de crianças...

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