Há cerca de seis anos fui convidada a escrever uma coluna semanal na Folha. Estava, na ocasião, no meu escritório na Faculdade de Educação em Harvard. Alertei a portadora do convite, Maria Cristina Frias, que escreveria sobretudo sobre educação e perguntei-lhe se não haveria problemas. Afinal, este é o tema que dá sentido de propósito a minha vida. Mas sabia que minhas colunas não seriam somente sobre isso. Acompanham-me desde há muito o tema de direitos humanos e a crença numa sociedade mais coesa, mais justa. Carregamos conosco nossas "biografias", na acepção que a escritora albanesa Lea Ypi empresta ao termo.
A cada semana, fazia uma "escuta" nos jornais, nas redes sociais e em livros recentemente lidos (muitos com a intenção de achar chaves para minha escrita) e a partir da segunda-feira, começava a ruminar o tema da coluna. Na quarta, escrevia a primeira versão, para rever na quinta e enviar ao editor ou, como agora, editora. Em muitos momentos, diálogos interessantes ocorriam ao reler o texto já formatado e acatar ou não sugestões de edições.
Nos textos, incluí muito do que pretendo ver na educação básica no Brasil: um ensino integral em tempo integral, melhorar a atratividade da profissão docente, uma formação inicial e continuada dos professores com mais diálogo entre teoria e prática, ressignificação da educação infantil, uma alfabetização que, de fato, funcione para todas as crianças, um fundamental 2 e um ensino médio com um ensino mais engajador, que prepare os adolescentes e jovens para a construção de seus projetos de vida, um ensino profissional atento às novas possibilidades que a revolução digital trouxe, e a regulação do Sistema Nacional de Educação, com definição clara de papéis entre os entes federados e com o financiamento necessário. Tudo isso sem falar da necessária recomposição das aprendizagens perdidas com a pandemia.
O Brasil não tem o direito de pensar pequeno. Somos a 13ª economia e, assim, não somos um país pobre e sim desigual. Nenhuma outra política pública, afora a educação, terá papel mais importante para construir um desenvolvimento sustentável e inclusivo. E a Folha se abriu, de forma importante, para todas essas discussões.
É neste contexto que, por ora, me despeço, pois passei a integrar o grupo técnico de transição de educação, o que, pelas regras da Folha, não é compatível com meu papel de colunista. Assim, terei que interromper a minha rotina semanal de reflexões sobre a educação e sobre os avanços (e recuos) na agenda civilizatória que procuro partilhar com os leitores toda as sextas-feiras. Até breve!
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