Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Claudia Tajes

A revanche dos memes

Depois que eles invadiram a vida real, tudo perdeu a graça

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Aconteceu que os memes tomaram o poder. Bispos mequetrefes, artistas decaídos, crentes tresloucadas, reaças folclóricos.

Depois de uma eternidade no ostracismo, criaturas sobre quem a gente fazia piada estão por cima da carne seca. Os memes invadiram a vida real e suas ideias bizarras, que antes iam para as redes com legendas que variavam de kkkkkkkk a rsrsrsrsrsrs, agora estão em prática.

Caso clássico é o de Donald Trump. Rico de doer, dedicou a vida a ficar cada vez mais rico e, de vez em quando, a trocar de beldade. Acumulou escândalos sexuais —os americanos dão importância a coisas que, aqui nos trópicos, contam como currículo— e fama de sonegador, participou de programas de TV e se tornou cada vez mais loiro e mais laranja. O meme perfeito. Enquanto o mundo ria da pinta de Oompa-Loompa dele, o que Trump fez? Virou presidente. E periga se reeleger.

Ilustração para a coluna de Claudia Tajes de 02.dez.2019
Resultados da pesquisa Resultados da Web Cynthia Bonacossa

Nada que se compare aos memes nacionais. Parece que se abriu um portal, e eles escaparam em bando. É de matar de inveja o Asilo Arkham. Pinçados de alguma dimensão até então escondida, vieram para a superfície com seus preconceitos encruados, suas crenças tortas, seus discursos vergonhosos, sua burrice orgulhosa e João 8:32 sempre na ponta da língua. A verdade vos libertará. Quanto mais ressentidos, autoritários, vingativos, mal-educados, sem noção, fanáticos e violentos, mais longe podem chegar. É só olhar para o Alvorada.

Bons tempos em que a gente se lavava com o Dória apagando grafites. Com as mãozinhas satânicas do Temer. Com o Garotinho esperneando ao ir do hospital para o xilindró. Era o tragicômico na medida. Mas quem consegue rir de um ministro do meio ambiente de mocassim  italiano na praia cheia de óleo? De um logotipo feito de balas? Do lunático que acusa Leonardo diCaprio de financiar “a ONG que tocou fogo na Amazônia”? O submundo de onde brotam esses tipos acaba de nos brindar com uma nova figura, o recém-nomeado presidente da Fundação Palmares que, negro, despreza Zumbi e sente “vergonha e asco da negrada militante”.

Estão jogando baixo. Desse jeito, o país da piada pronta vai virar o país da piada natimorta. Assim eles nos quebram as pernas.

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