Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Claudia Tajes

Máscaras e mordaças

Além do corona, tem mais vírus contaminando a gente

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Carnaval já vai longe, mas agora é que vieram as máscaras. O já popular coronavírus, que os mais íntimos chamam tão somente de corona, fez os prevenidos saírem do armário. E dá-lhe máscara, acessório que a gente se acostumou a ver pelo mundo a cada ataque de um novo vírus, mas que não chegou a incorporar à rotina nacional.

Foi baixíssima a adesão durante as outras Sars (síndromes respiratórias agudas graves). Parecia exagero de poucos, frescura até. Agora é diferente. Os fabricantes não esperavam o boom, deixando boa parte da clientela desabastecida. E, já que crise é oportunidade, o preço das máscaras vem aumentando na proporção da procura.

Ilustração de uma massa verde, cuja forma é esférica com subdivisões que geram relevos, a forma não é mostrada completamente na imagem. Há formas circulares menores grudadas nelas e ligações finas, semelhantes a grampos, entre uma subdivisão e a outra. Fitas penduradas na maior estrutura e vários fios que passam embaixo dela. Alguns elementos vermelhos menores, que parecem vírus, estão espalhados na parte inferior.
Ilustração publicada nesta segunda (16) - Cynthia Bonacossa/Folhapress

Festas, eventos, estreias, shows, a Covid-19 está deixando todo mundo com o ingresso e os nervos pendurados, à espera da remarcação. Quem mantém a data, acrescenta uma informação essencial. Traje: máscara. Pode ir de alto esporte, passeio completo, gala, o que quiser, só não esqueça da máscara. Talvez, como acontece no Oriente, as marcas comecem a lançar modelos coloridos, estampados, de paetês, de oncinha. Pelo menos dá um tchan no visual —ainda se fala “dar um tchan”?

A live do presidente mascarado apresentou uma cara mais macabra para o corona. Tirem as crianças da sala. O marketing presidencial parece mais tresloucado do que a política econômica. Em um dia, convoca uma manifestação. Depois, nega. Aí, desconvoca. Em um dia, o coronavírus não é uma ameaça. Algumas horas depois, máscara na live. Tonteia quase tanto quanto acompanhar as oscilações da bolsa e a disparada do dólar.

Tão em evidência quanto a máscara, a mordaça também voltou com tudo nesses dias. O governo mesmo faz uso, sempre que decide quem pode transmitir suas notícias. Como se calar uma voz ou outra fosse remédio. O problema é que esse tipo de pensamento é vírus, contagia o tico, contamina o teco.

Há duas semanas, o paraninfo dos formandos de jornalismo de uma das maiores universidades do Rio Grande do Sul tentou discursar sobre as agressões sofridas pela imprensa e o direito à liberdade de expressão. Teve que sair escoltado pela polícia para não ser agredido pelo público, composto —em sua totalidade— pelas famílias e amigos dos jornalistas que acabavam de receber seu diploma.

No caso do coronavírus, está faltando máscara. Já em tantos outros, a máscara caiu.

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