É tradição as agências de notícias e os jornais escolherem as imagens do ano quando a virada se aproxima. E, como também é tradicional, a maioria dessas imagens entala na garganta do leitor. Quase todas tão indigestas quanto um panetone gourmet.
No Brasil, a retrospectiva certamente trará balas perdidas (o certo é dizer assassinatos), abusos, golpes, desvios, escândalos, crimes ambientais, tragédias.
Não tem sido fácil chegar ao final de um ano. Não tem sido fácil fazer piada ao final de um ano. Mas 2020 exagerou, com seus quase 200 mil mortos oficiais e um dos piores, para não dizer o pior, enfrentamentos da pandemia em todo o mundo.
Nesse contexto, a coluna escolhe como imagem do ano uma cena de fazer o peru voltar em uma golfada. De trancar na goela as uvas passas do arroz à grega. A live da véspera de Natal, com Bolsonaro e Romero Britto, o pintor dos presidentes, um luxo em seu terno verde. Ao fundo, para completar o quadro, um sujeito qualquer com a camisa da seleção.
Uma imagem vale por mil palavras, mas as palavras de Bolsonaro são a expressão de um ano do inferno.
Na live de Natal –tempo de paz, segundo a propaganda dos supermercados– ele usou a sua lógica particular do cristianismo, e o raciocínio tortuoso de sempre, para atacar o governador Doria.
"Eu quero o cidadão de bem armado. Com o povo de bem armado, acaba essa brincadeirinha de 'vai ficar todo mundo em casa que eu vou passear em Miami'." Referia-se à malfadada escapadela daquele que chamou de calcinha apertada.
Ainda atacou a imprensa e duvidou da vacina. Mais tarde, no pronunciamento oficial, falou que o Brasil é referência mundial no combate à pandemia. Em vez de cloroquina, o Exército devia era distribuir para a população o remédio que o presidente toma.
Mas há uma esperança no ar, literalmente. Um salto de paraquedas marcado para janeiro junto com outros integrantes do núcleo duro, Pazuello entre eles.
Longe de mim desejar o mal aos outros; é só uma informação que o próprio Bolsonaro deu na live de Natal. Falando nisso, vem aí a live de Ano-Novo; 2020 é uma desgraça sem fim.
E o Romero Britto nisso tudo? Estava lá, tiete de terno verde, para não deixar dúvida de que este governo é o quadro da dor na moldura da cafonice. Mas isso todo mundo sabe.
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