Cláudia Collucci

Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

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Cláudia Collucci

Drama dos médicos cubanos segue sem solução à vista

De carregador de mala a funcionário de funerária, eles improvisam enquanto aguardam revalidação do diploma

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Não será ainda desta vez que o drama dos 1.800 médicos cubanos que ficaram no Brasil após o fim da participação no Mais Médicos chegará ao fim.

Embora nesta segunda (29) tenha sido publicada uma medida permitindo que eles solicitem autorização de residência no país, isso não facilita em nada o que eles mais desejam: continuar exercendo a medicina no Brasil. Tampouco eles devem ser contemplados no novo programa que o governo federal deve lançar nesta semana, o Médicos pelo Brasil, que pretende levar médicos ao interior do país.

O ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) vem prometendo desde o início do ano uma solução para os médicos cubanos, mas até agora não há nada de concreto. Inicialmente, o ministério planejava permitir que eles fizessem uma capacitação para revalidação do diploma enquanto os demais passariam pela especialização.

Segundo Mandetta, a proposta ainda não tem consenso dentro do Ministério da Educação. “Eles são vítimas de uma negociação entre países. Existe um apelo e queremos estender a mão”, disse o ministro à Folha.

Muitos cubanos estão passando por dificuldades financeiras enquanto esperam o Revalida, exame de revalidação do diploma que não é feito desde 2017. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável por aplicar o teste, não tem previsão de quando ocorrerá a próxima prova.

Enquanto isso, muitos que antes atuavam em regiões remotas do país, levando assistência a muitas pessoas que nunca haviam visto um médico na vida, estão desempregados ou vivendo de subempregos. Até abril, o médico Karel Fuentes, 35, sobrevivia como maleiro no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e vendia doces. Agora, nem esse trabalho ele tem. Vive com ajuda da mulher, brasileira.

Após sete meses desempregado, Raymel Kessel, 39, conseguiu um trabalho como auxiliar de escritório de uma funerária na cidade de Parnaíba, no litoral do Piauí. Ao G1, ele contou que tentou vaga de gari, mas não foi admitido porque tem formação em medicina.

Após quatro anos e meio trabalhando como médico na rede de atenção básica do município de Ilha Grande, no litoral do Piauí, Raymel se casou com uma piauiense e é pai de um menino brasileiro, e por isso decidiu ficar no Brasil.

Arnulfo Martinez Cruz e Barbara Danay, que vivem em Palmeira dos Índios, em Alagoas, estão casados com palmeirenses, têm situação regularizada no país. Enquanto esperam o Revalida, estão trabalhando na prefeitura do município. Ele, no setor de armazenamento de vacinas. E ela, na farmácia.

O dinheiro dá para pagar as contas do mês, mas não é suficiente, por exemplo, para Barbara comprar passagens aéreas e ir para Cuba buscar a filha de cinco anos que ficou com a ex-sogra. "Minha filha não dorme direito e só chora. A minha angústia é muito grande." 

Os dramas se repetem em várias regiões do país. Mas quem se importa? Tudo isso poderia ter acabado de uma forma mais civilizada se o acordo de cooperação não tivesse sido quebrado de forma intempestiva pelo governo cubano, em resposta às críticas do então presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que comparou os médicos cubanos a escravos, acusou-os de serem espiões e questionou seu profissionalismo.

Após a saída dos cubanos do Mais Médicos, o Brasil lançou editais para preencher as vagas, primeiro para médicos locais formados no país e depois para médicos treinados no exterior. No entanto, muitas não foram preenchidas porque os médicos brasileiros desistem do processo.

O resultado desse imbróglio são milhares de pessoas sem assistência médica pelo país, enquanto quase 2.000 médicos diplomados não podem exercer a profissão. 

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