É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.
Veículos autônomos impactarão o mercado imobiliário mundial
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Presidente da Tesla, Elon Musk, durante lançamento do Model X |
Serviços como Uber, Lift e outros modelos de compartilhamento estão procurando espaço na matriz de transportes, apesar de já causarem grande influência no comportamento dos consumidores em todo o mundo.
Os veículos autônomos, por sua vez, foram experimentados por pouquíssimas pessoas e, talvez, ainda seja muito cedo para repercutir as mudanças que estão por vir. Porém, é possível avaliar que o seu impacto deverá ser mais contundente para o mercado imobiliário do que o surgimento do automóvel no século passado.
A consultoria americana Green Street Advisors lançou neste ano, no congresso anual do Urban Land Institute, relatório com os possíveis efeitos da revolução nos transportes.
Provavelmente, o primeiro efeito será a diminuição brusca na quantidade de donos de veículos. Esse fato, associado à propagação dos veículos autônomos, pode resultar, segundo o relatório, em uma redução de até 50% da área de estacionamentos nos próximos 30 anos, liberando espaço para o desenvolvimento de outras atividades. Isso pode ser muito significativo. Hoje, nos EUA, o espaço ocupado por estacionamentos equivale a mais de 60% de toda área ocupada por imóveis residenciais.
Sem a necessidade da construção de estacionamentos, mudam o custo de produção dos produtos imobiliários e a relação de preços entre os novos e os antigos produtos.
A chegada de tecnologia de ponta mudará os parâmetros de mobilidade existentes e permitirá o desenvolvimento das funções urbanas em novos espaços, inclusive no âmbito macrometropolitano. Isso pode constituir importante vetor para o direcionamento de novos empreendimentos imobiliários. Os veículos autônomos, segundo a fabricante de carros elétricos Tesla, deverão estar disponíveis para venda em 2020, trazendo implicações positivas e negativas.
Do lado positivo, estão otimização de viagens, redução do tráfego, diminuição nos custos de transporte e no número de infrações de trânsito, o que pode resultar em maior segurança. Por outro lado, se a expectativa é de os veículos autônomos não cometerem violações, haverá uma redução drástica na arrecadação proveniente das multas. Esses recursos, que hoje são utilizados na administração municipal, deverão ser originados de outras formas.
Deverá haver uma legislação regulatória para os veículos sem motoristas, com a previsão de risco real de invasão de seus computadores por hackers. Além disso, esses novos modelos poderão trazer uma significativa redução de empregos. Segundo a Green Street Advisors, o fim das atividades de motoristas profissionais pode atingir, somente nos EUA, três milhões de trabalhadores.
Novas formas de transporte urbano implicarão na revisão dos conceitos de localização dos produtos imobiliários e, talvez, em uma reconsideração dos investimentos em transporte de massa.
Caminhões sem motoristas tornarão mais eficiente a distribuição na cadeia de suprimentos. Com isso, as mercadorias permanecerão menos tempo armazenadas, resultando na diminuição da demanda por galpões industriais.
A crescente indústria na área de "self storage" pode ser abalada, porque a queda do número de veículos por residências ou apartamentos poderá transformar em depósitos as vagas ociosas de estacionamento.
Sem a necessidade de estacionamentos, grandes empreendimentos de uso misto poderão ser construídos em locais onde hoje não é possível.
A revolução nos transportes está a caminho, assim como as transformações inexoráveis que a acompanham. Grande parte dessas mudanças afetará de forma significativa o mercado imobiliário, que deve se preparar para tirar o melhor proveito dessas transformações.
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