Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

Tornar as cidades inteligentes é fundamental, mas elas precisam ser mais humanas

Será que a tecnologia tem ajudado as pessoas a estabelecerem conexões entre si e com a cidade?

Internet das coisas (IoT) e tecnologia são plataformas sobre as quais se estruturam as cidades inteligentes. É fato que todo esse arcabouço tecnológico tem ajudado as cidades a se tornarem mais eficientes e operacionais. Entretanto, será que tem ajudado as pessoas a se conectarem entre si, e com os espaços e equipamentos urbanos na mesma proporção? Será que as cidades inteligentes não precisam se tornar mais humanas?

As cidades são formadas por estruturas urbanas que envolvem os edifícios e todos os sistemas físicos que as compõem, obviamente, além das pessoas. Contudo, se a forma como essas pessoas se relacionam entre si, com a cidade e seus equipamentos não é universal, é possível afirmar que as cidades inteligentes não devem ser estruturadas considerando apenas a tecnologia, mas também as pessoas que as habitam e suas especificidades.

Não teremos uma cidade inteligente completamente funcional se, durante a sua concepção, não forem incluídas formas de documentar e privilegiar as diferentes experiências que os seres humanos podem e devem ter com a tecnologia urbana. A abordagem ao planejar sistemas, políticas e governança em torno dos indivíduos é fundamental para que as cidades se tornem ambientes mais humanos.

Para pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, uma importante perspectiva que revela o verdadeiro significado de tornar cidades inteligentes mais humanas está na maneira como elas estruturam a solução de seus problemas, com foco em todos os gêneros, idades e classes sociais. Pobres ou ricos, mulheres ou homens, velhos ou jovens, todos têm diferentes necessidades e experiências, que se ligam à totalidade de aspectos de uma cidade inteligente. Dessa forma, todos precisam estar no centro do processo de concepção e operação da chamada “smart city”.

Para exemplificar, na Inglaterra, as mulheres têm hoje menos de 20% dos empregos especializados em TIC (Tecnologia, Informação e Comunicações). Segundo os cientistas ingleses, isso mostra que as oportunidades não têm sido iguais para que as mulheres possam mostrar suas perspectivas e qualidades de liderança em prol do planejamento de uma cidade inteligente.

No entanto, isso não significa que as mulheres não estejam dando passos incríveis na criação de um futuro inteligente e inclusivo para as regiões urbanas. Se elas tiverem a chance de mostrar suas habilidades de forma mais equânime, poderemos adicionar mais da inteligência criativa às cidades inteligentes.

Ir além da robotização e da tecnologia sofisticada, personalizando os serviços para os cidadãos, é uma atitude importante para tornar as cidades inteligentes mais próximas das pessoas. Os planejadores urbanos devem compreender que o conceito não se resume em introduzir tecnologia nos espaços urbanos para o bem das pessoas, mas, também, na medida do possível, resolver os problemas de cada uma delas.

Os sensores fornecem uma imagem bastante precisa da cidade física, mas não nos dizem muito sobre a cidade social. Como as pessoas usam os espaços? O que elas pensam sobre suas cidades? Por que preferem algumas áreas em detrimento de outras?

Enquanto os sensores podem medir quantas pessoas se locomovem pela cidade diariamente, eles são incapazes de revelar o objetivo da viagem ou da experiência com o espaço urbano, por exemplo.

Com a compreensão mais ampla dos dados sociais e físicos, os pesquisadores poderiam encontrar respostas a inúmeros questionamentos e apontar as causas da segregação de algumas comunidades, os motivos de determinadas áreas serem mais frequentadas, os fatores que influenciam diretamente o humor das pessoas, deixando-as mais alegres ou tristes. Ou mesmo onde é mais provável que as pessoas pretendam ir em determinados momentos. Ou seja, poderemos tornar as cidades inteligentes mais humanas.

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