Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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As lições urbanas da Covid-19

Planejadores das cidades devem ser arrojados para superar essa e outras crise

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O surto provocado pelo novo coronavírus espalhou-se pelo mundo, tornando-se uma pandemia focada predominantemente nas áreas urbanas.

Por certo, essa devastadora experiência nos dará a oportunidade não só de compreender melhor a forma de construir e organizar as cidades, mas, principalmente, de nos conscientizarmos da importância de cuidar da população mais vulnerável e tornar nossa sociedade mais igualitária, em especial quando tratamos de moradia, saneamento e acesso à saúde.

A natureza repentina e imprevisível das crises urbanas relacionadas a eventos epidêmicos como esse que atravessamos requer uma abordagem mais holística de resiliência urbana, e esse processo inicia-se com uma profunda reflexão sobre os sistemas e os modelos de operação de uma cidade.

Esse aspecto da resiliência urbana dependerá cada vez mais de uma estruturação que envolva “big data" e a utilização da Internet das Coisas, operando com “sistemas sensoriais" que capturem, com precisão, informações críticas. Isso pode incluir dados da população e dos fluxos de pessoas e mercadorias, que são compartilhados com plataformas interconectadas a outros sistemas voltados à vigilância, em tempo real, dos riscos de evolução dos surtos e da análise de tendências.

Dessa forma, ajuda-se a prevenir e dar respostas às epidemias em tempo real. Uma plataforma como essa permitiria aos governantes compreender melhor o fluxo populacional dentro e entre as cidades, além de prever e avaliar os riscos potenciais da propagação de doenças em função da proximidade e da movimentação social.

Além disso, com o uso de algoritmos baseados nesses dados, essa plataforma poderia calcular e prever áreas com alta probabilidade de serem afetadas por ressurgências da epidemia. Esse é o tipo de inteligência que apresenta incrível valor ao se definir estratégias urbanas para um eventual abrandamento do distanciamento social.

A experiência com a Covid-19 nos ensina que as principais crises de saúde não podem ser resolvidas por soluções técnicas restritas. Para alcançar o nível de coordenação interdepartamental ou interfuncional que uma cidade precisa nessas situações, é necessário primeiro formular um conceito muito mais amplo do desempenho geral dos sistemas da cidade.

A pandemia atual nos mostra que apenas uma resposta integrada poderá funcionar adequadamente, estruturada em responsabilidade compartilhada, uso transparente de dados e participação pública ancorada em fortes princípios éticos. Um problema global deve ter uma solução que funcione para todos.

Neste momento de quarentena, com menos motoristas indo para o trabalho, as ruas e avenidas normalmente movimentadas ficariam quase vazias. Enquanto isso, ao tentar manter distância física de outras pessoas ao caminharmos para desempenhar atividades essenciais, percebemos, por exemplo, o quão estreitas são as nossas calçadas, que nossos parques não estão dimensionados para a população que vive em seu entorno, e que nem tudo o que necessitamos está tão próximo de onde moramos. São exemplos que nos fazem entender a importância de repensar o funcionamento e a estruturação dos espaços e equipamentos públicos, e o modelo de distribuição dos usos do solo pela cidade.

A crise provocada pela Covid-19 é um grande choque para o mundo. Sem desconsiderar os devastadores efeitos econômicos, e a insuportável perda de vidas humanas, envidar todos os esforços e solidariedade para aliviar o sofrimento dos mais afetados é uma obrigação de todos. Nesse contexto, os planejadores urbanos têm papel relevante a desempenhar. Este é o momento de serem arrojados, experimentarem novas ideias e utilizarem as lições aprendidas para desenvolver os serviços, os espaços públicos e os modelos de funcionamento da cidade, que possam nos ajudar a superar essa crise e outras que, seguramente, virão.

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