Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

O teste de Medeiros

São Paulo

Cinco dias depois da malograda greve geral que o transformou em estrela em ascensão do sindicalismo brasileiro, Luis Antônio de Medeiros, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, começou, ontem pela manhã, a preparar-se para o verdadeiro teste de sua liderança: a campanha salarial dos metalúrgicos paulistanos, cuja data-base é novembro.

 E, a julgar pela disposição inicial da diretoria do Sindicato, esse teste colocará em xeque não apenas a liderança de Medeiros mas um dos postos essenciais do Plano Bresser. Medeiros e seus companheiros pretendem lutar pela reposição, em novembro, de todas as perdas salariais que julgam ter sofrido, inclusive a inflação de junho, escamoteada pelo Plano Bresser.

 Como a ministro da Fazenda já disse que repassar para os salários toda a inflação passada inviabilizaria o seu plano, está dada a dimensão real da batalha que se avizinha.

 Para Medeiros, é um teste vital pelas próprias características do sindicalismo que defende, o chamado "sindicalismo de resultados", ou seja, a tentativa de extrair do patronato o máximo possível de concessões salariais e trabalhistas, sem questionar, em momento algum, o sistema sócio-político-econômico.

 A campanha dos metalúrgicos paulistanos vai também interferir, ainda que indiretamente, na Confederação Geral de Trabalhadores (CGT), Medeiros e Antônio Rogério Magri, presidente do Sindicato dos Eletricitários, estão em mal disfarçada campanha para apear Joaquim dos Santos Andrade, o "Joaquinzão", da presidência da CGT. E é óbvio que uma bem-sucedida campanha salarial é trunfo vital na hora da disputa pelo principal cargo cegetista.

 Essa faceta paralela tem importância política direta: Medeiros e Madri querem evitar que dirigentes sindicais tenham uma militância partidária paralela ("Joaquinzão", por exemplo, é suplente de senador pelo PDMB).

 E essa é uma discussão que se estende à outra central sindical (a Central Única dos Trabalhadores, CUT). Embora lamentando o insucesso da greve do dia 20, Armando Rollemberg, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (filiada à CUT), acha que esse fato fortaleceu os que defendem a desvinculação entre a CUT e o PT. Vê-se, por tudo isso, que o pós-greve está apenas começando no movimento sindical.

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