Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Banespa, cérebro e alma

São Paulo

Já escrevi mais de uma vez, neste espaço, que, entre minhas incontáveis e enormes qualidades, não está a de ser nacionalista.

Ainda assim, acabou sendo um choque a ilustração publicada na capa da Folha de ontem, em que a bandeira do banco espanhol Santander substitui a do Estado de São Paulo no topo do edifício do Banespa.

Não se trata de discutir tecnicamente a privatização do Banespa. Tudo já foi dito e, o que não foi, precisa ser averiguado antes de ser posto em letra de fôrma.

O ponto é outro, puramente sentimental. Desde que me conheço por gente (e já faz tempo), a bandeira de São Paulo sempre tremulou no alto do Banespa (de fato ou simbolicamente, tanto faz). Ou seja, é um importante pedaço da minha história (e de todos os paulistanos de 50 anos ou mais) que está sendo reescrita.

Pior: não é o primeiro pedaço. O fechamento do Mappin da praça Ramos de Azevedo foi outro choque.

Quando era criança, minha mãe me arrastava para compras naquele Mappin, o único da época, aliás, o que me irritava profundamente, mas me infundiu a crença de que o endereço era importante.

Meu pai vendia máquinas pesadas (bens de capital, diriam hoje) e, de vez em quando, eu o ajudava, levando papéis para firmas que, quase todas, já morreram ou passaram para mãos estrangeiras.

Tudo somado, a maior parte dos endereços da São Paulo em que nasci e cresci não existe mais ou mudou de nome. E, sem saudosismo algum, não dá para dizer que a São Paulo de hoje é melhor que aquela. O cérebro até grita que não é justo fazer a equação: privatização + desnacionalização = piorou tudo.

Mas, no fundo d"alma, a gente achava que aquela bandeira paulista no topo do Banespa queria dizer que o sétimo de cavalaria estava a postos, por perto, e viria em nosso socorro, em caso de aperto. Já a invencível armada espanhola...

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