Está sendo lançada nesta sexta-feira, 15, na Europa uma nova iniciativa de esquerda, cujo alvo prioritário são as políticas de austeridade que se tornaram marca registrada da política no mundo todo (vide Brasil, no início do segundo período de Dilma Rousseff).
Há duas estrelas midiáticas entre os defensores do novo projeto: o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que, de assessor econômico da Casa Branca no governo Bill Clinton, tornou-se o "enfant terrible" do capitalismo depois que saiu; e Yannis Varoufakis, ministro grego da Economia no início da gestão do grupo esquerdista Syriza, notabilizado pela colisão frontal com seus colegas europeus.
Participa também Ada Colau, a nova prefeita de Barcelona, que se tornou conhecida pela defesa dos despejados de suas casas pela impossibilidade de pagamento - eleita por uma coligação que nada tinha a ver com os partidos tradicionais.
Fazem parte também quadros do Podemos, o partido criado a partir dos protestos dos indignados espanhóis, indignados exatamente pelos duros efeitos da austeridade.
E o indefectível linguista Noam Chomsky, um ícone da esquerda.
Não se trata de um novo partido político, mas de "um espaço de confluência" para todos os que se opõem às políticas de austeridade.
O catalisador do movimento foi a crise da Grécia, exatamente o país mais devastado pela austeridade.
O manifesto de lançamento, adianta o jornal "El País", diz que, na Grécia, houve "um golpe de Estado financeiro executado a partir da
União Europeia e suas instituições contra o governo grego, condenando a população grega a continuar sofrendo as políticas de austeridade que já haviam rechaçado em duas ocasiões por meio das urnas".
De fato, os eleitores gregos rechaçaram a austeridade três vezes, na verdade, inutilmente. O partido (Syriza) que venceu exatamente por se opor a ela terminou por ser obrigado a compor com os credores.
Corolário inescapável: "incompatibilidade das instituições europeias com a democracia".
Eis um ponto que pode ser trasladado para o Brasil: a oposição e setores à esquerda do PT acusam o governo Dilma de "estelionato eleitoral", exatamente por defender a austeridade, após uma vitória eleitoral em que ela não apareceu nem de leve.
(Se a austeridade foi mais falada do que executada não muda o estelionato).
Como setores do próprio PT atacaram o programa de austeridade o tempo todo, deduz-se que cabem no novo "espaço de convivência", até porque este se diz com "visão internacionalista".
O novo movimento já convocou um congresso para de 19 a 21 de fevereiro, a realizar-se em Madri.
Embora nasça contra alguma coisa (no caso, a austeridade), é óbvio que, mais cedo que tarde, terá que propor algo em seu lugar que seja factível.
Aí é que se verá se o novo conglomerado tem chances de permanência e de influência, em vez de ser apenas um clube de debates, eventualmente ricos mas inócuos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.