A Espanha está conhecendo agora um escândalo que remete ao triplex do Guarujá que levou à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os envolvidos na Espanha apresentam-se, como Lula, como paladinos dos pobres. Não obstante, o casal Pablo Iglesias/Irene Montero, líderes do grupo Podemos, nascido de baixo para cima e também crítico feroz das tais de elites, comprou um chalé de € 600 mil (R$ 2,6 milhões) na localidade de Galapagar, a 40 quilômetros de Madri, na turística serra de Guadarrama.
Para a compra, o casal, os dois deputados, fez uma hipoteca de € 540 mil (R$ 2,3 milhões), pela qual pagarão por mês algo mais de € 1.600 (R$ 7.000), por um prazo de 30 anos.
O jornal El País informa que o chalé tem mais de 250 metros quadrados de construção, em um terreno de 2.000 metros quadrados, com piscina e casa para convidados.
É mais requinte que o triplex a que se associa Lula.
Tanto que o colunista Rubén Amón, de El País, chamou o chalé de “dacha", já no título de sua coluna a respeito, nesta sexta-feira (18). Dacha é o nome das residências de luxo dos dirigentes da antiga União Soviética.
Escreveu Amón: “O chalé na serra é um símbolo absoluto da pequena burguesia. E um ícone patrimonial do desenvolvimentismo dos anos 80, que contradiz o fervor franciscano com que o líder de Podemos parecia desenvolver-se na política".
Minha opinião: há um pouco de exagero nessa avaliação. Um político pode defender causas populares sem necessariamente morar em uma favela. Mas entendo o miniescândalo: nas vésperas das eleições gerais de 2015, Iglesias criticara “os políticos que vivem em chalés e se isolam".
O casal - que espera gêmeos para breve - acusou o golpe, tanto que emitiu uma nota justificativa de 800 palavras. Frase essencial: compraram o imóvel para morar, não para especular.
Uma hipoteca de € 540 mil está muito longe do alcance do espanhol médio. O Instituto Nacional de Estatísticas informa que, em fevereiro, a hipoteca média era de € 120 mil (R$ 528,6 mil), pagável em 24 anos, e não nos 30 obtidos pelo casal de deputados.
Na nota, Iglesias e Montero reconhecem que “muitas famílias espanholas, inclusive com dois salários, não podem permitir-se uma hipoteca assim e, por isso, entendemos que é tão importante defender salários dignos para todos e todas".
Bonito, mas parece um caso de típico de “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
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