Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Guerra entre China e EUA embaça o documento final do encontro do G20

Grupo vai do consenso para o dissenso em dez anos

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Avião sobrevoa a área onde será realizado o encontro do G20, em Buenos Aires - Gustavo Garello/Associated Press

O governo argentino recebe as delegações que desembarcam no aeroporto de Ezeiza para a cúpula do G20 (sexta-feira, 30) com uma sedutora proposta: “a construção de consenso para um desenvolvimento equitativo e sustentável”.

Proposta sedutora mas dez anos atrasada: na primeira cúpula desse grupo das 20 maiores economias do planeta, de fato se construiu um consenso para enfrentar a crise que galopava velozmente.

Funcionou: a ação do G20 foi essencial para evitar que a recessão se transformasse em depressão, com as devastadoras consequências desse tipo de fenômeno.

Dez anos depois, o máximo que os líderes do G20 podem alcançar no encontro em Buenos Aires é evitar que os dissensos se tornem ainda mais alarmantes.

Há discordâncias para diferentes paladares, a principal delas entre Estados Unidos e China, envolvidos em uma guerra comercial

Mas há também um encontro potencialmente desagradável entre o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que não hesitou em divulgar relatos sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi que apontavam o dedo diretamente para o príncipe.

Como se fosse pouco, o presidente russo, Vladimir Putin, resolveu tomar navios ucranianos, para irritação dos Estados Unidos e da Europa, atores centrais no G20.

Mas o foco do G20 —que é a colaboração para discutir e, de preferência, resolver problemas econômicos— está na guerra China x Estados Unidos. Até a tarde desta quarta-feira (28), os negociadores, reunidos em Buenos Aires desde segunda (26), nem sequer tinham certeza de que haveria um documento final.

E, se houver, será necessariamente fraco, vazio, pela simples e boa razão de que a única perspectiva de entendimento entre chineses e americanos seria no encontro entre o chinês Xi Jinping e o americano Donald Trump

O problema é que os dois presidentes se reunirão em jantar no sábado (1º), horas depois de o documento final ter sido divulgado.

Logo, qualquer que seja o resultado do jantar —a paz, uma simples trégua ou uma escalada no conflito— não poderá influir no texto de Buenos Aires.

Roberto Azevedo, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) e dono de vastíssima quilometragem em negociações comerciais internacionais, resume o impasse à Folha em uma frase: “Como escalar uma guerra, todo o mundo sabe; o que ninguém sabe é como reduzir a tensão”.

É por isso que se torna real a perspectiva de não haver documento final, o que consagraria o dissenso em um grupo nascido para buscar o consenso.

Uma perspectiva tão mais real quando se sabe que, na mais recente reunião em que estiveram presentes representantes de China e Estados Unidos, não houve, pela primeira vez, declaração final. 

Foi na cúpula da Apec (sigla em inglês para Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) há dez dias.

É claro que o G20 é muito mais importante e, por isso, uma fratura desse tamanho em um clube que representa 85% da economia mundial teria repercussões bem mais terríveis.

A OCDE (Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento) acaba de divulgar relatório prevendo que se a guerra entre China e Estados Unidos escalar, a economia mundial passaria de um pouso suave (do crescimento), como hoje previsto, para algo mais forte.

Há dez anos, o G20 conseguiu administrar o pouso. Agora, os pilotos estão em guerra na cabine de comando.

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