O barulho de um bebê que estava em casa com sua mãe advogada durante uma sessão virtual de julgamento incomodou um desembargador do TJAM (Tribunal de Justiça do Amazonas) na tarde desta segunda-feira (22).
No vídeo, o desembargador Elcio Simões, presidente da Segunda Câmara Cível do tribunal, adverte a advogada Malu Borges Nunes após o barulho do bebê "vazar" de seu microfone na audiência em que ela defendia segurados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em ações de benefício por incapacidade.
Ao ouvir os resmungos da criança, que parecia estar mamando (não é possível ver o bebê na tela), Simões dirige-se à profissional, advertindo-a. Ele afirma que interferências externas, como latido de cachorro ou barulho de bebê, atrapalham a sessão do tribunal, que requer silêncio.
"Se tiver alguma criança, coloque no local adequado", diz ele a Malu, chegando a falar sobre a "ética" da advogada, que responde, agradecendo a "compreensão" do magistrado. "OK, Excelência, agradeço a compreensão", diz ela.
Em nota, o TJAM, afirmou que o colegiado chegou a votar o direito de a mãe ter prioridade no debate dos processos em que apresentaria defesa, a pedido da advogada, mas a prioridade foi negada, já que ela estava em home office.
Sobre a bronca, o órgão diz que foi uma recomendação dada de forma educada. "Recomendou-se educadamente e com todo o cuidado evitar barulhos durante a sessão, ainda mais em respeito a presença de outros advogados em audiência pública complexa e extensa", diz o órgão.
Procurada, a advogada ainda não se manifestou sobre a questão.
A participação da advogada na sessão começou com uma hora do início, quando ela deu seu primeiro posicionamento em favor de uma cliente. Depois, passaram a ser debatidos vários outros processos em que ela defendia os cidadãos, e a advogada precisou, então, abrir o microfone e fazer as defesas.
Antes mesmo da bronca do desembargador, o bebê de Malu já havia resmungado, fazendo sons que saíam pelo microfone enquanto a mãe falava, mas foi em duas ocasiões e o barulho não era alto.
No entanto, na terceira vez, o magistrado a repreendeu. Não houve alteração na voz dele, que usou o mesmo tom do debate dos casos julgados. Malu também não se alterou e o respondeu com tranquilidade. No entanto, era possível ver no semblante da mãe um certo ar de incômodo pela situação.
Nas redes sociais, há quem condene a mãe
Nas redes, a sociedade se divide. Muitas pessoas, incluindo mulheres, dizem que a atitude de Simões é correta, condenando a mãe por estar com seu bebê. Outras poucas acreditam que a situação foi constrangedora para a mulher.
Sou mãe e, exatamente nesta segunda-feira (22), participei de reunião online com uma de milhas filhas na sala. Ela tem dez anos e não resmunga mais como um bebê, mas estava visível no vídeo enquanto eu participava da reunião.
Minhas filhas, inclusive, gostam de cumprimentar as pessoas que estão em reunião comigo quando podem. Afinal, "entram" na sala de casa. Meus colegas, educadamente e amorosamente, sempre têm um cumprimento e um sorriso para minhas meninas.
Também já fiz entrevistas ouvindo criança gritando do outro lado da linha, mamando, chorando e mesmo cachorro latindo. Todos os entrevistados —em sua maioria homens— me pediram desculpas. E eu sempre digo que não há problema. Porque não há. Quando se trata de pai cuidando do filho, aproveito para parabenizar pela atitude.
O trabalho segue. A vida segue. Os profissionais se sentem respeitados e as crianças, acolhidas. Penso na sensação de tristeza dessa mãe. Na realidade, a única coisa que a gente quer é poder cuidar dos nossos filhos da melhor forma e vê-los sendo respeitados como um ser humano que faz parte da sociedade.
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