Cristina Serra

Paraense, jornalista e escritora. É autora de "Tragédia em Mariana - A História do Maior Desastre Ambiental do Brasil". Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense.

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Janio, jornalismo e democracia

Sua longevidade no front é um símbolo poderoso de que é possível atuar na profissão com dignidade

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Poucos jornalistas brasileiros podem ser alçados à categoria de lenda. Janio de Freitas está nesse panteão com honra e glória. Muitos de nós decidiram ser jornalistas por causa dele, inspirados por ele. Querendo ser como ele. Muitos de nós ficaram (e ficam) pelo caminho: porque as dificuldades da profissão são imensas, porque os salários são baixos e as pressões, às vezes, insuportáveis.

A longevidade de Janio no front é um símbolo poderoso de que é possível atuar na profissão com dignidade e altivez. Ele atravessou o século 20 e já adentra a terceira década do 21, tendo inscrito seu nome na história do jornalismo brasileiro ainda muito jovem.

O jornalista Janio de Freitas na sucursal da Folha no Rio em imagem sem identificação de data - Acervo Pessoal

Como contou Ruy Castro, por ocasião dos 90 anos do mestre, em junho, Janio foi a mente ousada e criativa no comando da reforma gráfica do Jornal do Brasil, que desencadeou uma revolução na imprensa nacional, forçada a tentar imitar a modernidade do concorrente. Janio não tinha chegado aos 30.

Na Folha, em 1987, inaugurou um novo tipo de reportagem sobre crimes com dinheiro público, ao denunciar o acerto prévio entre as construtoras que participaram da licitação para as obras da ferrovia Norte-Sul (governo Sarney). Era um jogo de cartas marcadas. Janio provou a falcatrua ao publicar os vencedores de forma cifrada na seção de classificados, dias antes da divulgação do resultado.

Em maio deste ano, o site Poder 360 entrevistou o jornalista para celebrar os 35 anos do caso Norte-Sul. Na entrevista, Janio disse que há duas maneiras de exercer o jornalismo. Uma é o "carreirismo desbragado, a bajulação, a adesão política e a prestação de serviços contra a ética jornalística". A outra é "trabalhar muito". "Assim, essa carreira vale a pena", completou. Obrigada, mestre, pela coerência e coragem.

Silenciar a voz de Janio de Freitas, neste momento da vida brasileira, apequena a Folha. Perdemos, nós, seus fieis leitores, perdem a Folha, o jornalismo e a democracia no Brasil.

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