Dan Ariely

Professor de economia comportamental e psicologia na Universidade Duke (EUA), autor de “Previsivelmente Irracional”.

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Dan Ariely

Ask Ariely: Sobre estacionar, dividir a conta e jogar

Existem basicamente três maneiras de dividir a conta quando um grupo sai para jantar

Vista de estacionamento em shopping em Ribeirão Preto
Vista de estacionamento em shopping em Ribeirão Preto - Joel Silva/Folhapress

Caro Dan,

O que devo fazer quando preciso estacionar o carro? Tenho dificuldade em decidir se devo ir imediatamente para um estacionamento pago, otimizando o meu tempo, ou ficar dando voltas na esperança de encontrar uma vaga gratuita na rua.

—Cheri

Cheri,

Esta é uma questão sobre o valor do seu tempo. Você precisa descobrir quanto vale, para você, uma hora de diversão fora de casa e comparar com o tempo que você leva para encontrar um local de estacionamento. Por exemplo, se uma hora fora de casa vale $ 25 para você, e a busca por estacionamento leva 30 minutos, em média, qualquer valor inferior a $ 12,50 cobrado pelo estacionamento valerá a pena. À medida que o número de pessoas em seu carro aumenta, o valor do estacionamento também aumenta proporcionalmente, porque o desperdício de tempo passa a ser de todas as pessoas que estão com você.

Outra abordagem é comparar o incômodo que você sente ao pagar pelo estacionamento com o incômodo que sente ao procurar um lugar gratuito para estacionar. Se o incômodo do pagamento não for tão grande quanto a infelicidade do seu tempo perdido, você deve ir para o estacionamento. Mas se você fizer isso, você não deve ignorar o desconforto que você sentiria se pagasse pelo estacionamento e, em seguida, encontrasse um local gratuito na porta do seu destino final. Pessoalmente, o pensamento do tempo perdido é tão insuportável para mim que eu geralmente opto por estacionamento pago.

Ainda outra abordagem é colocar, com antecedência, todo o dinheiro que você pretende gastar ao sair dentro de um envelope. Quando estiver a caminho do restaurante ou do cinema, decida se esse dinheiro seria melhor gasto em estacionamento ou outros bens. Vale a pena renunciar a essa pipoca extragrande em troca de pagar pelo estacionamento e chegar ao teatro na hora marcada? Isso torna a comparação mais clara entre o que você ganha (estacionamento rápido e mais tempo) e o que você renuncia.

 

Caro Dan,

Quando saímos para jantar com amigos, qual é a melhor maneira de dividir a conta?

—William

William,

Existem basicamente três maneiras de dividir a conta. A primeira é que todos paguem pelo que consumiram, o que, na minha experiência, finaliza a experiência do jantar de forma não tão agradável. Todos têm que se tornar um contador calculando o consumo individual separadamente. Dada a importância dos finais das nossas experiências em como moldamos nossas memórias, essa é uma abordagem particularmente ruim. Em vez de lembrar como o crème brûlée estava delicioso, é mais provável que você se lembre que Suzie comeu a maior parte dele, embora tenha pago pela metade.
A segunda abordagem é dividir a conta igualmente, o que funciona bem quando as pessoas comem (mais ou menos) a mesma quantidade.

A terceira abordagem, minha favorita, é que uma pessoa pague para todos, alternando o pagador em cada refeição. Se você sai para comer com um grupo com relativa regularidade acaba sendo uma solução muito melhor. Por quê? (A) Conseguir uma refeição grátis é um sentimento especial. (B) A pessoa que paga por todos não sofre tanto quanto seus amigos sofreriam se tivessem que calcular e pagar individualmente. E (C) a pessoa que paga a conta pode até se beneficiar da alegria em oferecer esse jantar.

Vejamos o exemplo de dois amigos, Jaden e Luca, que estão indo jantar no seu restaurante favorito. Se dividissem o custo da refeição de maneira uniforme, cada um sentiria, digamos, dez unidades de sofrimento. Mas se Jaden pagar, Luca teria zero unidades de sofrimento e ainda a alegria de um jantar grátis. Como existe uma diminuição da sensibilidade à medida que a quantia paga aumenta, Jaden sofreria menos de 20 unidades - talvez 15 unidades. Além disso, ele pode até obter um impulso na felicidade por comprar uma refeição para seu querido amigo.

 

Caro Dan,

Eu jogo em uma liga de golfe semanalmente. Entre os jogadores, há um indivíduo que fala constantemente em seu celular, se movimenta enquanto os outros estão jogando e principalmente ignora as cortesias do golfe. Ele foi solicitado a parar com esse comportamento, mas ele continua com uma atitude de valentão. Como posso lidar com isso?

—Wally K.

Wally,

Embora você deva estar tentado em arrancar o telefone de suas mãos, jogá-lo no chão e esmagá-lo com seu taco de golfe, sugiro outra solução.

Você poderia implementar uma nova regra, na qual todos os outros jogadores que jogarem com você ganhem um mulligan (nome que se dá no Golf a uma tacada a mais sem ser computada na pontuação final) cada vez que o valentão falar ao telefone. Obter feedback negativo constante (além de dar a todos os outros jogadores um aumento no desempenho) provavelmente colocaria essa pessoa na linha. Só não se esqueça de levar os mulligans de forma consistente, ou seja, toda vez que ele falar ao telefone. Dessa forma seu comportamento será punido e a mensagem se manterá firme.

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