Dan Ariely

Professor de economia comportamental e psicologia na Universidade Duke (EUA), autor de “Previsivelmente Irracional”.

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Dan Ariely

Ask Ariely: Somos mais ou menos honestos quando estamos em férias?

Nesse período, ações que executamos estão em novo contexto; o que acontece em Vegas, fica em Vegas

Querido Dan,

Em sua resposta na semana passada sobre dividir a conta em restaurantes, você destacou que existe uma “sensibilidade decrescente na medida em que o dinheiro pago aumenta”. Eu notei isso no meu próprio consumo. Eu faço o possível para economizar, mas acabo gastando uma quantia enorme em uma bolsa que eu achei linda. Por quê? E como controlar isso?

Toboáguas e piscina
O parque aquático Hot Beach, em Olímpia (SP) - Divulgação

— Lembry

A sensibilidade decrescente é um modo simples pelo qual nossas mentes trabalham em muitos domínios da vida. Por exemplo, imagine que você acenda uma vela no meio da noite. Essa pequena quantidade de luz vai dramaticamente mudar sua capacidade de ver seus arredores. Mas e se você já tem dez velas acesas e você adiciona mais uma? Agora ela não teria muito efeito. A ideia básica da sensibilidade decrescente é que nossas mentes tendem a registrar aumentos relativos; nós tomamos qualquer quantia adicional de coisas como se fosse um ganho percentual, e não absoluto.

Agora, quando se trata de dinheiro, nós deveríamos pensar em termos absolutos (US$ 10 são US$ 10 independentemente de estarmos economizando em um jantar ou em um novo carro), mas não pensamos assim. Nós pensamos em dinheiro em termos percentuais também.

O que podemos fazer a respeito disso? Não é fácil, mas deveríamos tentar enfrentar essa tendência natural. Um método que eu utilizo periodicamente é pegar uma quantia de dinheiro que eu estou pensando em gastar e perguntar a mim mesmo quais outras coisas eu poderia comprar com isso. Por exemplo, considerando que eu gosto de ir ao cinema (e, vamos dizer que o preço de duas entradas e pipoca seja US$ 25), eu me pergunto se US$ 25 gastos numa compra potencial vale mais ou menos que o prazer de ir ao cinema.

Quando enquadrado dessa maneira, não importa se a economia vem da conta de um jantar ou de um novo computador – e isso me ajuda a fazer a pergunta ‘Com o que eu gostaria de gastar?’ de forma mais concreta. Então, da próxima vez que você estiver fazendo compras para uma nova bolsa, tente mensurar seu preço em termos de outro uso para aquele dinheiro para o qual você talvez dê mais valor.

 

Querido Dan,

Eu estou de férias há alguns dias em Nova Iorque e, enquanto lia seu livro mais recente, sobre desonestidade (A Mais Pura Verdade Sobre a Desonestidade), eu fiquei me perguntando se as pessoas se comportam de modo mais ou menos honesto durante as férias.

– Julie

Esta é uma pergunta interessante e (infelizmente) eu não tenho dados para dividir com você a respeito dessa questão. Mas há algumas ideias a se considerar:

Por que as pessoas em férias poderiam ser mais honestas? Durante as férias, as pessoas parecem mais relaxadas em gastar dinheiro, o que sugere que a motivação em ser desonesto para ganho financeiro pode ser mais baixa. Além disso, pessoas em férias estão em mais bom humor, estado emocional o que talvez elas não queiram desperdiçar comportando-se mal.

Por que as pessoas em férias poderiam ser menos honestas? Nas férias, as ações que executamos estão em um novo contexto. Como se costuma dizer, “O que acontece em Vegas, fica em Vegas”. Além disso, as regras das férias podem parecer menos claras: Quais são as regras para estacionar em São Francisco? Quanto eu deveria dar de gorjeta em Portugal? É ok levar as toalhas deste hotel? Esse tipo de cegueira oportunista pode tornar mais fácil que nos comportemos mal enquanto mantemos uma visão sobre nós de pessoas maravilhosas e honestas.

De todo modo, então, seriam as pessoas em férias mais ou menos honestas? Eu suspeito que elas sejam menos honestas – mas eu adoraria que me provassem o contrário.

 

Querido Dan,

O que há na comunicação via internet – Facebook, Twitter, email – que faz com que as pessoas desçam aos mais baixos padrões de conteúdo?

– James

É fácil culpar a internet, mas eu acho que vemos esse comportamento principalmente porque as pessoas, geralmente, gravitam em torno de trivialidades. Considere suas interações diárias. Quanto disso é uma sucessão de argumentos inteligentes – e quanto disso seria o equivalente em fotos de gatinhos fofos? A internet simplesmente facilita visualizar o quão tediosa nossas interações diárias são.

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