Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Descrição de chapéu Fies Enem

Faz diferença ser um pai linha-dura ou bunda-mole?

Relação com filhos influencia seu desenvolvimento e dinâmica da sociedade

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Conforme nos aproximamos do próximo Dia dos Pais, emerge uma questão enfrentada por muitos pais e mães: como criar os filhos da maneira mais eficaz possível? O modo como os responsáveis interagem com suas crianças influencia não somente o seu desenvolvimento pessoal e profissional mas também a dinâmica da sociedade em que estão imersos. Diante dessa realidade, surgem as perguntas: quais são os fatores que permeiam a escolha entre os diversos estilos de educação disponíveis e quais são as consequências concretas dessas decisões?

Para compreender essas questões, os pesquisadores Matthias Doepke e Fabrizio Zilibotti desenvolveram um modelo que combina altruísmo e paternalismo nas metas dos pais. Eles usaram dados socioeconômicos para entender melhor como essas interações acontecem. De acordo com o que o estudo concluiu, os pais escolhem um estilo de educação que busca maximizar o que é melhor para eles próprios a partir das suas preferências, das preferências de seus filhos, da situação econômica em que vivem e das expectativas que têm para o futuro.

Os três estilos educacionais abordados na pesquisa são: o autoritário, o permissivo e o autoritativo. No autoritário, as figuras parentais estabelecem normas inflexíveis para seus filhos, reservando pouco ou nenhum espaço para o diálogo ou negociação. Já no contexto permissivo, a liberdade de ação é ampla, evitando impor limites ou acarretar consequências, ainda que as escolhas sejam arriscadas. Enquanto isso, no enquadramento autoritativo, são delineadas diretrizes claras e razoáveis às crianças, ao mesmo tempo em que é concedida uma dose moderada de autonomia e participação nas tomadas de decisão.

O tipo de educação desempenha um papel crucial no bem-estar e êxito econômico dos filhos, tanto a curto quanto a longo prazo. Por exemplo, uma educação autoritária pode gerar adultos mais produtivos, mas menos felizes, uma vez que tendem a adotar um perfil mais conformista, menos inovador e avesso a riscos. Em contrapartida, a permissiva pode resultar em maior grau de felicidade, embora possa diminuir a produtividade, fruto de uma inclinação mais individualista. Já a versão autoritativa, por sua vez, procura encontrar um equilíbrio entre produtividade e felicidade, fomentando independência e ponderação dos riscos e consequências das próprias escolhas.

O estudo ainda expõe uma análise comparativa entre dois cenários distintos: um caracterizado por elevada desigualdade e baixa segurança, e outro marcado por baixa desigualdade e alta segurança. No primeiro contexto, o estilo autoritário é adotado em virtude de preocupações com escolhas prejudiciais para a renda, resultando em maior produtividade, porém menor felicidade para os filhos. No segundo panorama, a preferência se volta para o estilo permissivo, confiando em escolhas individuais e, assim, promovendo maior grau de felicidade, embora essa escolha possa comprometer a produtividade e renda futura. Esses exemplos salientam de que forma o ambiente econômico exerce influência sobre os padrões parentais, reverberando no bem-estar e êxito econômico dos descendentes.

Além disso, essas preferências de criação mudam com o crescimento e desenvolvimento econômico de acordo com os incentivos que eles enfrentam. O estudo mostra que a criação autoritária tende a declinar à medida que o desenvolvimento econômico avança, pois os pais têm menos motivos para restringir as escolhas dos filhos em um ambiente mais seguro e igualitário. Mais ainda, há também uma relação bidirecional: o estilo de educação está intrinsecamente ligado ao contexto socioeconômico e, por sua vez, influencia esse contexto, gerando ciclos de desigualdade ou segurança. Torna-se evidente que mesmo o estilo de educação tem efeitos significativos no crescimento econômico, na mobilidade social e na transmissão de valores culturais. O estudo ainda sugere que políticas públicas podem exercer influência no estilo parental, por meio de incentivos ou intervenções, ao aumentar a segurança pública, fornecer programas sociais e de formação, por exemplo.

Diante deste panorama, fica mais claro que a educação não apenas motiva o bem-estar e a prosperidade econômica dos filhos, mas também influencia e é influenciado pelo curso da sociedade e sua evolução. Ao analisar os cenários de desigualdade e segurança, somos confrontados com uma constatação marcante: o contexto econômico em boa medida molda as escolhas parentais, que gerou impacto em quem somos hoje e tem impactos no futuro daqueles que educamos.

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