Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Descrição de chapéu maternidade

Você não precisa ser melhor que as outras mães

Competição entre mães é problema social que prejudica elas e suas famílias

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O Dia das Mães é neste fim de semana. Uma data para reconhecer a maternidade como uma jornada cheia de desafios, alegrias e aprendizados. Junto com essas experiências vêm também as expectativas sociais e culturais que levam as mães a se compararem constantemente umas às outras.

Possivelmente você já foi julgada ou julgou outras mães, se sentiu pressionada a atender a padrões idealizados ou ainda convive com mães que passam por essas pressões.

A competição entre mães é um fenômeno relacionado à mentalidade de maternidade intensiva, que exige que as mães se dediquem totalmente às suas crianças e que se responsabilizem por todos os aspectos de seu desenvolvimento. Trata-se de uma tendência a evitar qualquer problema para o filho muito antes de eles acontecerem.

É claro que o envolvimento materno é benéfico para as crianças. Apesar disso, ainda há incerteza em relação aos resultados do desenvolvimento infantil sob a maternidade intensiva, que se tornou comum.

Em estudo com 241 pais e mães de crianças pequenas, conduzido por Holly H. Schiffrin e colegas, examinaram-se a aderência a crenças sobre a maternidade/paternidade intensiva e seus efeitos. Foi constatado que essas crenças estavam associadas a uma maior propensão à resolução antecipada de problemas (RAP). A RAP é uma medida que avalia o quanto os pais tentam antecipar e solucionar problemas potenciais das crianças antes mesmo que eles ocorram.

Por exemplo, uma das perguntas da medida é: "Eu tento evitar que minha criança fique frustrada e chateada com alguma coisa", respondida em uma escala de 1 a 7. Essa propensão reflete a maternidade intensiva, revelando o desejo das mães de proteger as crianças de experiências negativas, mesmo em situações fora de seu controle direto.

Embora os pais e mães com essas crenças inscrevam com mais frequência seus filhos em atividades extracurriculares, a participação nessas atividades não se mostrou um indicador significativo de desenvolvimento das habilidades criativas e motoras das crianças. Esses resultados desafiam a suposição de que atividades caras e que consomem muito tempo são essenciais para garantir a felicidade e o sucesso dos filhos.

Além disso, essa busca constante de antecipar e resolver problemas tem sido associada a consequências negativas para a saúde mental das mães. No entanto, mesmo diante dessas evidências, alguns pais e mães podem considerar que vale a pena sacrificar sua própria saúde mental em prol do suposto desenvolvimento ideal de seus filhos. Essa dinâmica complexa revela a profundidade da pressão e das expectativas impostas sobre os pais, especialmente as mães, na busca por um modelo de maternidade perfeita.

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Charge sobre o Dia das Mães - Jean Galvão/Folhapress

Outras evidências apontam para essa relação. Um estudo conduzido por Jiyoung Chae investigou o impacto das informações educacionais na comparação, competição e consumo relacionados ao desempenho acadêmico dos filhos. O estudo utilizou dados coletados de mães de alunos do 1º, 2º e 3º ano nos Estados Unidos e em Singapura. Os resultados revelaram que a exposição das mães a informações educacionais estava associada a uma maior tendência a comparar seus filhos com outras famílias. Além disso, mães que realizaram mais comparações das habilidades de seus filhos em relação aos demais demonstraram uma maior propensão a consumir bens educacionais, como cursos, por exemplo.

No entanto, esse fenômeno não ocorre quando as mães comparam e compartilham suas opiniões sobre educação. Ao comparar opiniões, as mães podem perceber que há diversidade e flexibilidade nas formas de educar suas crianças e que não há uma única maneira certa de fazê-lo, levando-as a uma relação cooperativa. Esses resultados destacam como o peso de responsabilidade das mães em relação à educação de seus filhos, sob a influência da mentalidade da maternidade intensiva, impacta suas intenções de consumo no que diz respeito ao investimento educacional.

A competição entre mães é um problema social que prejudica as próprias mães e suas famílias. Ela é incentivada em grupos que cobram a maternidade perfeita e acabam incentivando o consumismo desenfreado em nome do bem-estar das crianças. Para aliviar essa pressão, as mães precisam focar a troca de experiências e opiniões sobre educação, reconhecendo a diversidade e a autonomia das formas de cuidar. Nesses dias das mães, o lembrete: toda mãe é humana e não precisa ser perfeita.

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