Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Caso do Tio Paulo alerta sobre descaso e risco de fraudes contra idosos

Fortalecer o tecido social das comunidades, transformando-as em redes de vigilância, é necessário para coibir abusos

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Nesta semana, um incidente bizarro atraiu atenção nacional no Rio de Janeiro: uma mulher foi presa ao tentar sacar um empréstimo de R$ 17 mil acompanhada pelo titular da conta. O "detalhe" perturbador é que o homem já estava morto.

Capturado em vídeo por funcionários do banco, o registro mostrava a mulher tentando segurar a cabeça de Paulo Roberto Braga, de 68 anos, erguida enquanto tentava fazê-lo assinar os documentos. A polícia segue investigando o caso.

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Mulher leva cadáver para assinar empréstimo no Rio de Janeiro - Reprodução

Esse acontecimento suscitou um debate sobre uma realidade: a vulnerabilidade dos idosos a fraudes e estelionatos seja por parte de familiares ou de estranhos.

Estudos, como o conduzido por David Burnes e sua equipe, indicam que cerca de 5,6% dos mais velhos nos Estados Unidos são vítimas dessas práticas em um período de cinco anos. Essa situação não parece menos grave em outras partes do mundo.

Esse número, possivelmente subestimado, reflete a complexidade em detectar e denunciar esses incidentes, muitas vezes ocultos pela vergonha ou pela falta de conhecimento sobre como proceder após serem vitimados.

Jingjin Shao e outros pesquisadores apontam que os idosos são particularmente suscetíveis a fraudes devido ao declínio cognitivo natural, dificuldades em regular emoções e uma tendência a confiar mais em estranhos.

Essas características são astutamente exploradas por fraudadores que empregam técnicas sofisticadas para manipular suas vítimas, causando não somente prejuízos financeiros, mas também danos psicológicos significativos.

Além disso, o isolamento social, comum entre muitos idosos, amplia os riscos de exploração. Os criminosos geralmente iniciam contatos por telemarketing, emails fraudulentos ou falsos esquemas de caridade. Uma vez que o indivíduo responde, seu nome pode ser incluído em "listas de alvos fáceis", comercializadas entre os estelionatários, continuando assim o ciclo de fraudes.

A situação se agrava quando familiares ou cuidadores se aproveitam da vulnerabilidade do idoso para obter empréstimos consignados ou adquirir produtos financeiros sem esclarecer os custos envolvidos ou prestar contas adequadas.

Nesses casos, torna-se ainda mais desafiador para instituições ou outras pessoas intervirem e protegerem a vítima.

Para combater esse tipo de crime, Shao e os outros pesquisadores sugerem uma abordagem focada na educação e prevenção.

Eles propõem programas que aumentem a conscientização dos idosos sobre os riscos e os tipos de fraude mais comuns, além de treinamentos para melhorar a habilidade de reconhecer e resistir a essas armadilhas. Essas estratégias incluem o desenvolvimento de redes de suporte social robustas que ofereçam assistência e orientação contínua.

A implementação de políticas públicas que facilitem a denúncia desses crimes e a proteção das vítimas também é crucial. Programas de apoio devem ser acessíveis e projetados para encorajá-los a reportar fraudes sem medo de estigma ou retaliação.

Por fim, essas estratégias precisam ocorrer a partir da colaboração entre instituições de proteção ao idoso, órgãos de segurança e outras instâncias das políticas sociais para estabelecer uma rede de proteção.

Vale salientar, contudo, que essas políticas serão pouco efetivas se a sociedade e as famílias com idosos não se engajarem em cuidar deles e efetivamente integrá-los nas comunidades. Usando o caso do tio Paulo como ilustração, apenas no balcão de atendimento os funcionários filmaram e chamaram a polícia.

Por quantas pessoas será que o corpo do falecido não foi visto antes do momento do vídeo?

Esse processo exige uma mudança cultural em que sociedade e famílias adotem uma postura proativa de responsabilidade e cuidado. As famílias são essenciais, fornecendo suporte físico e emocional e proteção contra quem possa explorar a vulnerabilidade de seus entes queridos.

É fundamental educar todas as gerações sobre os sinais de fraude e como preveni-los. Fortalecer o tecido social das comunidades, transformando-as em redes de vigilância e apoio, é necessário para coibir abusos, inclusive por parte de cuidadores e familiares.

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