Deirdre Nansen McCloskey

Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

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Deirdre Nansen McCloskey

Quem lucrou com a escravidão?

Senhores da guerra na África obtiveram ganho econômico

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A resposta parece óbvia. Os cafeicultores brasileiros e os plantadores de cana-de-açúcar do Caribe e de tabaco e algodão dos Estados Unidos, certo? Segundo a Nova História do Capitalismo, a escravidão é o pecado original e a semente da economia moderna.

Marx e Engels haviam dito que o lucro da pirataria explicava o enriquecimento da Europa.

Eles e seus numerosos seguidores acrescentaram a exploração, por exemplo, dos trabalhadores britânicos. Marxistas posteriores disseram que o lucro obtido com o imperialismo era a semente. Então eles disseram que era o lucro do tráfico de escravos. Agora os novos historiadores estão dizendo que foi a própria escravização.

Nada disso faz sentido. O erro histórico é esquecer que a pirataria, a contratação de mão de obra, o imperialismo e, sobretudo, a escravidão aconteceram em todos os tempos e em todos os lugares, repetidamente, há milênios. Por exemplo, um vigoroso comércio de escravos ao longo da costa leste da África abasteceu os mercados do Cairo. Era tão grande quanto o comércio que existia na costa oeste do continente, que abastecia Recife, Kingston e Charleston. No entanto, nenhuma economia moderna adveio.

campo de algodão em flor
Plantação de algodão no Alabama; estado do sul dos EUA foi um dos que usaram mão de obra escrava no cultivo - Alyssa Pointer -2.dez.21/Reuters

O erro econômico é confundir ganhos comuns, como nossos salários, com ganhos extraordinários, o "lucro" definido economicamente.

As muitas pessoas que são tão inteligentes ou enérgicas quanto você e eu competem para reduzir nossos salários ao normal. Mas a mulher que descobre que as crianças gostam de ler sobre um mágico infantil chamado Harry Potter obtém lucro. A empresa que descobre petróleo insuspeito na costa do Brasil obtém lucro.

É bom porque é compartilhado em longo prazo, com ficção mais barata e petróleo mais barato. Nunca é bom quando alguém descobre como corromper o governo de uma nova maneira. E nunca é bom quando alguém escraviza outro.

Mas os fazendeiros brasileiros ou americanos competiam, fazendo subir o preço dos escravos. Nenhum lucro aí. Não para os comerciantes que competiam nos embarques da África.

O lucro econômico foi para os senhores da guerra africanos. Os perdedores na guerra sempre foram escravizados. Os demandantes também são culpados, é claro, ao encorajar os senhores da guerra a fazê-lo. Mas os senhores da guerra, não os europeus, obtiveram o lucro econômico.

Voltando ao erro histórico. Se o lucro explica uma maior prosperidade, a África, não a Europa ou suas ramificações, é que deveria ter sido a condutora da Prosperidade. Não foi.

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