Deirdre Nansen McCloskey

Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

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Deirdre Nansen McCloskey
Descrição de chapéu Estados Unidos

Cuidado com os advogados

Kamala Harris está propondo algumas políticas bem idiotas

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Em inglês, pelo menos, e talvez também em português, se uma pessoa ingênua for acusada de racismo —que no Brasil é crime— ou de algum preconceito vergonhoso, como contra os advogados, ela se defenderá declarando: "Mas alguns dos meus melhores amigos são advogados".

Uma pessoa sofisticada transforma a frase numa piada irônica, como estou prestes a fazer: alguns dos meus melhores amigos são advogados.

Sério. Mas sou economista da cabeça até os meus sapatos de couro envernizado. Portanto, passei a maior parte da minha vida profissional argumentando contra advogados.

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Catarina Pignato

Kamala Harris, que sinceramente espero que esmague Donald Trump e seu Partido Republicano neofascista em 5 de novembro, é uma boa pessoa e será uma excelente presidente. Mas ela é advogada até os seus sapatos de couro envernizado. Portanto, está propondo algumas políticas bem idiotas.

Bons economistas sabem que aprovar uma lei que "pretende" melhorar as condições de trabalho ou os salários, ou controlar o preço da moradia, ou "proteger" os trabalhadores americanos da concorrência estrangeira, tem efeitos perversos, principalmente o de tornar os pobres mais pobres. E, às vezes, até mesmo tornar os ricos mais ricos.

Certamente, "proteger" o único fabricante americano de painéis solares da concorrência chinesa —o que os advogados de Trump fizeram imediatamente após ele assumir o cargo— prejudica os trabalhadores e torna os painéis solares duas vezes mais caros para serem instalados em uma casa.

Fazenda solar no deserto de Tengger, na China - Greg Baker/AFP

E Kamala Harris tem ideias semelhantes. Ela é formada em direito e trabalhou durante décadas como promotora.

Os advogados acham que, se houver um problema, a solução é aprovar uma lei que coaja as pessoas a fazerem o bem.

Faz algum sentido se o problema for a milícia ou fraude, embora tal mentalidade tenha funcionado extremamente mal, digamos, na guerra às drogas. Ainda assim, queremos leis coercitivas para impedir milícias e fraudes. Ou tentar impedi-las.

O problema é que as leis do Estado são geralmente apenas força pública e fraude —força porque todas as leis são coercitivas; fraude porque os advogados não entendem os efeitos indiretos e não intencionais das leis ou não falam sobre esses efeitos. Qualquer bom economista poderia fazê-lo.

A guerra às drogas, por exemplo, aumentou o preço das drogas, corrompendo todas as forças policiais de Cabul a Kansas City e dando aos bandos incentivos econômicos para fazerem drogas mais fortes e matar pessoas.

As leis coagem. Antes de ouvir os advogados, ouça um economista.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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