Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Djamila Ribeiro

Seis mulheres pelo mundo

Junto comigo, outras cinco foram premiadas no Prince Claus Awards

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Recentemente estive em Amsterdã, capital da Holanda, para a premiação Prince Claus Awards, cerimônia de homenagem a seis pessoas por ano distribuídas por diversos países pelo mundo e reconhecidas pelos seus trabalhos transformadores. O prêmio, com mais de 20 edições, é concedido pelo Prince Claus Fund e tem a participação do Ministério de Relações Exteriores e da Família Real do país, reunindo, ao menos uma vez por ano, uma rede de pessoas e parceiros para apoiar e trazer à visibilidade pessoas e coletivos.

Foi uma honra ser uma das premiadas nessa edição de 2019. Segundo o Prince Claus Fund, o reconhecimento se deve ao papel desenvolvido como intelectual pública, além do trabalho pela democratização da leitura e de epistemologias invisibilizadas no país. 

Ilustração do planeta Terra cercado de várias coisas. Em volta dele, há cadernos, um compasso, um transferidor, tubos de tinta coloridos, uma câmera, rolos de filmes, pincéis e um lápis. Cinco mãos estão em volta do planeta segurando algumas das coisas.
Linoca Souza/Folhapress

Repercutiram muito os dados da pesquisa Personagens do Romance Brasileiro, do grupo de estudos em literatura brasileira contemporânea da Universidade de Brasília, coordenado pela pesquisadora Regina Dalcastagnè, que revelou, com base em análise de centenas de títulos publicados por três grandes casas editoriais brasileiras, que, entre 2005 a 2014, 97% dos livros foram escritos por autores brancos e 70% deles por homens. 

Nesse sentido, embora sejam não ficção, o trabalho desenvolvido pela coleção Feminismos Plurais, com dezenas de milhares de títulos vendidos e escritos por autores e, sobretudo, autoras negras, é digno de nota.

Além de mim, outras cinco mulheres foram premiadas. Na categoria de geração do futuro, foi indicada a escritora equatoriana Monica Ojeda Franco, ainda sem tradução no Brasil, por seus três romances publicados. Monica desenvolve uma literatura que aborda a violência doméstica, o abuso infantil e outros temas necessários, porém tratados como tabus. Na esteira de grandes escritoras, como a argentina Selva Almada, o trabalho feminista na literatura tem rompido silêncios e denunciado realidades. Sem dúvidas, deve ser traduzida em breve em português.

Mariam Kamara é uma arquiteta do Níger que desenvolve um trabalho pensado para e pela comunidade local, ligando espaços frequentados comumente a bibliotecas, por exemplo.

Os prédios desenvolvidos de forma sustentável têm sido de grande utilidade, sobretudo para pessoas com dificuldade de acesso a lugares como esses, como mulheres. 

A concepção de entregar ferramentas para autodesenvolvimento cultural comunitário pela arquitetura aproxima Kamara de práticas descritas no processo de empoderamento, sendo um outro belo
trabalho premiado.

Responsável por um centro de formação de artes em Brazzaville, capital do Congo, Bill Kouélany é uma artista interdisciplinar com exposição de seus trabalhos em pinturas, colagens, além de escritos, nos quais traz suas perspectivas da guerra. Seu ateliê de arte contemporânea na capital trabalha com 
centenas de jovens e promove festivais anuais para intercâmbio de artistas de outros países com os artistas congoleses.

Direto do México, Paulina Suárez representou a organização Ambulante, que há mais de uma década realiza exposições e festivais de documentários abertos para as populações de diversas regiões do país.

O trabalho de sucesso resulta hoje no maior festival de documentários do país, bem como em uma escola de formação de documentaristas jovens de comunidades, estimulados a desenvolver as suas perspectivas e visões independentes. 

Falando em cinema, Anocha Suwichakornpong foi a primeira cineasta tailandesa a ser nacionalmente premiada e tem percorrido o mundo com seus trabalhos. Em uma das cerimônias, parte de seu recente filme foi transmitida e o olhar sensível e de denúncia dos arbítrios do governo do país toca a plateia
de uma forma inspiradora. Talvez por isso, o embaixador da Tailândia, ao lado do embaixador do Brasil, foram os únicos a não estarem presentes na premiação. 

Anocha, que desenvolve também um trabalho de apoio e revelação de cineastas do sul da Ásia, já esteve em Curitiba para um festival e, certamente, se tiver o atento olhar do setor no Brasil, deve voltar outras vezes, tamanho o seu talento.

Na premiação principal, foi laureada a artista sudanesa Kamala Ibrahim Ishag. Desde a década de 1960, Ishag desenvolve pinturas sobre mulheres do país, onde teve atuação nos movimentos de direitos civis. Seus quadros nunca param de ser pintados, estão em constante transformação. Tive a honra de conversar um pouco com Kamala antes da premiação. Ela me abençoou, disse que eu lembrava uma de suas filhas.

Fico feliz de ter sido lembrada ao lado de mulheres tão incríveis.

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