Drauzio Varella

Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.

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Drauzio Varella
Descrição de chapéu dinossauro

Você e eu chegamos até aqui pela sucessão infindável de acontecimentos fortuitos

Se o asteroide não tivesse atingido a Terra, ela seria até hoje dos dinossauros

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Somos mamíferos. Pertencemos a uma subclasse dos vertebrados com mais de 6.000 espécies, entre as quais morcegos, baleias e girafas. O que caracteriza animais tão diversificados, capazes de viver na terra, no ar e nas águas, é a amamentação e a presença da placenta —com algumas exceções, como no caso dos marsupiais—, estrutura que lhes permite manter os filhotes dentro do útero durante meses, para que se desenvolvam em segurança.

No último fim de semana, li um artigo que o paleontólogo Steve Brusatte, professor da Universidade de Edimburgo, publicou na revista Scientific American. Nele o autor traça o caminho seguido pelos ancestrais dos mamíferos até dar origem aos seres humanos.

Você, prezado leitor, e você, caríssima leitora, com paciência para ler esta coluna, verá que chegamos até aqui por uma sucessão infindável de acontecimentos fortuitos que se acumularam no decorrer de milhões de anos. E que a vida porventura existente em outro planeta teria que sofrer os mesmos reveses para gerar seres com os quais pudéssemos nos entender.

Anos atrás, a ciência acreditava que os mamíferos só teriam surgido depois da extinção dos dinossauros. A paleontologia moderna, no entanto, revelou que os mamíferos tiveram origem concomitante a eles, no período Jurássico, cerca de 225 milhões de anos atrás, época em que os cinco continentes ainda estavam ligados por terra, formando a Pangeia.

Em meio à selva jurássica com seus tons verdes e violetas, vemos frente a frente, ambos de perfil e se encarando, um roedor é um Tiranossauro Rex
Ilustração de Líbero para coluna de Drauzio Varella de 17.mai.2023 - Líbero

Naquele tempo, a Terra começava a se recuperar da maior extinção em massa de sua história, provocada pela erupção de grandes vulcões na Sibéria, que derramaram lava e gás carbônico na atmosfera durante milhões de anos. A poluição e o aquecimento global extinguiram perto de 95% das espécies existentes.

Quando os vulcões se calaram, os animais remanescentes se apressaram em ocupar o vácuo ecológico deixado. Entre eles estavam os ancestrais dos dinossauros e dos mamíferos.

Nos 160 milhões de anos seguintes, dinossauros e mamíferos adotaram estratégias opostas. A seleção natural privilegiou o aumento de tamanho dos dinossauros: quanto mais fortes, maior a probabilidade de sobreviver. Nos mamíferos, ao contrário, foram selecionados os de pequeno porte, roedores noturnos em sua maioria. Tem lógica, não? Fora das tocas, que chance teria um animal do tamanho de um boi com aqueles mastodontes na vizinhança?

Entre 201 milhões e 66 milhões de anos, nos períodos Jurássico e Cretáceo, os dinossauros e os mamíferos se diversificaram. Eles, cada vez maiores, enquanto nossos ancestrais, que se alimentavam de frutas, tubérculos e flores, não passavam do tamanho de um coelho. No decorrer dos 79 milhões de anos de duração do Cretáceo, a diversificação dos mamíferos se acentuou. Apareceram os primeiros ancestrais dos primatas.

Um belo dia do Cretáceo, há 66 milhões de anos, quiseram as leis da física que um asteroide de 9 km de extensão entrasse em rota de colisão com nosso pobre planeta, entretido na translação ao redor do Sol, sem causar mal a ninguém. O choque aconteceu na península de Yucatán, no México. Equivalente a mais de 1 bilhão de bombas atômicas, o impacto monumental abriu uma cratera de mais de 16 km de profundidade e 160 km de largura.

Tsunamis, erupções vulcânicas, incêndios florestais e terremotos devastaram o planeta. As nuvens de poluentes escureceram os céus durante anos, as plantas perderam a capacidade de fazer fotossíntese e de alimentar os animais herbívoros, bem como os carnívoros não puderam mais se alimentar destes.

Com exceção de alguns pássaros, os dinossauros foram varridos da face da Terra. Azar deles, sorte nossa. Se a rota do asteroide desviasse um milésimo de grau, ele passaria a milhares de quilômetros do nosso planeta, que, aliás, não seria nosso até hoje, mas daqueles brutamontes.

No Paleoceno, período que sucedeu o Cretáceo, ocorreram várias extinções de espécies de mamíferos. É possível que tenham sobrevivido apenas 7%; entre eles os que dariam origem à linhagem dos primatas modernos. Durante milhões de anos eles seriam submetidos à implacável seleção natural, que eliminaria os menos aptos até surgirem os nossos parentes mais próximos: orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos; e nós mesmos.

Os seres humanos ainda enfrentariam sucessivos processos de seleção antes de chegar ao "Homo sapiens", espécie que por acaso daria origem a você e eu.

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