Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Edgard Alves

Olimpíada do gelo pega fogo nos bastidores

Crédito: Korea Pool/Reuters Membros das delegações da Coreia do Sul (dir.) e da Coreia do Norte se encontram
Representantes da Coreia do Norte (à esq.) e do Sul se cumprimentam após reunião

Os Jogos Olímpicos de Inverno, previstos para o mês que vem, na Coreia do Sul, têm provocado calorosos debates, mas não motivados por questões meramente esportivas.

O veto do Comitê Olímpico Internacional à participação da Rússia nos Jogos em Pyeongchang por causa do uso sistemático de doping pelo país, envolvendo atletas de 30 esportes em várias competições, e as negociações diplomáticas entre as Coreias, do Norte e do Sul, são as polêmicas que repercutem e ganham as manchetes.

O fato de os Jogos serem na Coreia do Sul provoca uma situação especial, levando-se em conta as relações delicadas daquele país com a Coreia do Norte desde que ambas finalizaram a guerra de 1950-53 com um armistício, sem acordo formal de paz.

Daí o envio de uma missão esportiva ao território do rival demandar negociações. Somente dois atletas norte-coreanos obtiveram qualificação, a dupla de patinadores Ryom Tae-ok e Kim Ju-sik, que não confirmaram a inscrição no prazo.

Mas tudo continua sendo ajustado. A delegação poderá contar ainda com outros atletas, animadores de torcida e artistas. Também existe a possibilidade até dos dois países desfilarem juntos na abertura.

A diplomacia comanda todo o processo. No campo esportivo, as performances das vizinhas são distintas em Olimpíadas de Inverno.

Enquanto a Coreia do Sul acumula 53 medalhas (26 delas de ouro) na competição, das quais oito (três de ouro) em Sochi-2014, a edição mais recente, a do Norte tem atuação modesta. Nem sequer esteve no evento da Rússia porque nenhum de seus atletas obteve classificação. Ganhou até hoje apenas duas medalhas, prata em 1964 e bronze em 1992.

Nas últimas semanas, as demandas das Coreias abafaram a repercussão da radical decisão do COI de impedir os russos de participarem dos Jogos. O tacão do COI repete a medida tomada pelo Comitê Paraolímpico Internacional na Paraolimpíada do Rio, quando a Rússia, já sob suspeita da prática de doping, também foi banida. Pouco antes, na Olimpíada brasileira, a delegação russa havia sido afetada parcialmente.

A decisão não é inédita. O COI, por conta do Apartheid, proibiu a inscrição da África do Sul nas suas competições de 1964 a 1988. Uma situação diferente, por exemplo, foi o veto ao Japão e à Alemanha nos Jogos de Londres-48, depois da Segunda Grande Guerra Mundial, exercido pelo país anfitrião.

O acontecimento envolvendo a Rússia também é emblemático. Quatro anos atrás, o país festejou o sucesso na organização da Olimpíada de Inverno de Sochi, mesmo que para tanto tivesse gasto US$ 51 bilhões. E ainda comemorou com entusiasmo a vitória da sua delegação naqueles Jogos. Só que o esquema de doping a que recorriam vários de seus atletas para melhorar o desempenho acabou descoberto.

A prática criminosa teve cobertura estatal, segundo ficou claro mais tarde. Suspeitas de fraude levaram o COI a analisar as amostras conservadas dos testes antidoping. Vários russos perderam suas medalhas e a Rússia caiu do topo do quadro de medalhas para o quarto posto, superada por Noruega, Canadá e Estados Unidos.

Atletas russos, no entanto, poderão participar dos Jogos de Pyeongchang, mas terão de usar uniformes neutros e, caso ganhem ouro, o hino a ser executado será o olímpico. Neve e frio simbolizam os Jogos, mas não impedem a elevada temperatura nos bastidores.

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