Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Apontada como solução para Olimpíada, vacinação de atletas causa polêmica

Segundo a OMS, profissionais de saúde, idosos e mais vulneráveis devem ter prioridade

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Desafio sem precedentes em tempos de paz, a pandemia do novo coronavírus continua implacável, sendo incerta a sua contenção. Março é o prazo final para o anúncio do derradeiro cancelamento ou da confirmação dos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados do ano passado para julho próximo.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) e o comitê organizador japonês da Olimpíada, com respaldo do governo do país, buscam alternativas para confirmar a realização do evento.

A pandemia é uma tragédia global, pavorosa, que espalha terror em todos os cantos do mundo. Diante desse quadro, que provoca muita tristeza e dor pelas mortes e pelos contaminados, a cartolagem esportiva e as autoridades japonesas tentam salvar os Jogos Olímpicos.

Nesta segunda (25), despacho da agência internacional de notícias Reuters reafirmou que para a OMS (Organização Mundial da Saúde) a prioridade é a vacinação dos profissionais de saúde da linha de frente, dos idosos e dos mais vulneráveis em nossas sociedades.

A OMS está prestando consultoria de gerenciamento de risco ao COI e às autoridades japonesas em relação à realização dos Jogos Olímpicos. Mike Ryan, o chefe de emergências da OMS, disse que a realidade tem de ser encarada e que não há vacina suficiente no momento para atender àqueles que estão em maior risco. Ryan afirmou ainda que o gerenciamento de risco para os Jogos e a decisão final sobre a própria Olimpíada são da alçada do COI e das autoridades japonesas.

Entretanto, nada parece suficiente para garantir a segurança no caso da saúde. Vários dirigentes esportivos têm levantado a bandeira da vacinação dos atletas como a salvação, uma questão polêmica e contraditória. Insinuam que os competidores poderiam ser vacinados contra a Covid-19.

Lógico que isso teria de acontecer bem antes dos Jogos, antes da viagem ao Japão. Mas nenhum dos que apontam o caminho da vacinação mostra como a proposta seria viabilizada, dando a entender que cada país com representação na Olimpíada encontre uma solução. Uma insinuação autêntica de cartolas.

Como vacinar atletas antes dos grupos prioritários, listados pela OMS? Qualquer proposta de furar a fila de vacinação é incorreta e imoral. Mais repugnante ainda quando se trata de privilegiar pessoas fora de série, exemplos de boa saúde, como são os atletas olímpicos. O COB (Comitê Olímpico do Brasil) está fora de qualquer proposta de vacinação de atletas. Adotou a cartilha dos órgãos de saúde.

O Japão ainda não iniciou a vacinação da sua população, medida prevista para começar apenas em fevereiro. Enquanto isso, o país garantiu vacinas suficientes para todos os seus cidadãos após fechar acordos com as empresas farmacêuticas Pfizer, AstraZeneca e Moderna.

Em recente discurso, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, sugeriu que as vacinas são um "argumento decisivo" para a confirmação dos Jogos Olímpicos. Há opiniões contra a tese de Suga. Uma delas é a de Tetsuo Nakayama, professor do Instituto Kitasato de Ciências da Vida. O professor defende a tese de que não é apropriado promover vacinas para realizar a Olimpíada, porque elas devem ser usadas para proteger a saúde das pessoas.

Para esta quarta (27), o Japão programou uma simulação de vacinação. Projeta também realizar teste de PCR em massa, e aleatório, em março, como parte dos esforços para determinar a extensão da disseminação do novo coronavírus em áreas do país. Os resultados serão analisados por meio de inteligência artificial.

Na área dos esportes, as entidades japonesas seguem com os preparativos olímpicos sem esperar pela confirmação dos Jogos. A Associação Japonesa de Federações de Atletismo, por exemplo, programa eventos-teste para maratona e outras provas da modalidade. A meia-maratona de Hokkaido-Sapporo será disputada em 5 de maio, enquanto o Estádio Nacional de Tóquio receberá outras provas de atletismo, em 9 de maio.

Mulher, de máscara, caminha próxima a display da Olimpíada de Tóquio
Mulher, de máscara, caminha próxima a display da Olimpíada de Tóquio - Charly Tribelleau - 24.mar.20/AFP

A indefinição sobre a Olimpíada atinge também outros eventos relacionados aos Jogos. Os mais prejudicados são os pré-olímpicos, classificatórios para a Olimpíada. São competições que definem a cara dos Jogos. Ainda não se sabe quem vai estar no Japão.

Os pré-olímpicos estão garantidos, mesmo com o crescimento da onda de contaminações? Essa é uma questão que o público em geral desconhece. Talvez esteja sendo debatida nos bastidores. Espera-se esclarecimentos na reunião da Comissão Executiva do COI, também prevista para esta quarta-feira. A comissão incentiva os competidores a se vacinarem, mas não pode impor essa condição.

A pandemia da Covid-19 é avassaladora e castiga medidas equivocadas para controlá-la. Por isso, as ações de combate ao coronavírus exigem muita atenção, trabalho e responsabilidade. Isso é o mínimo que se espera do COI e do Japão, parceiros responsáveis pelos Jogos.

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