A Olimpíada de verão, via de regra, é fonte de esperança e expectativa de momentos mágicos, que enchem de alegria e emoções os esportistas do mundo. Mais relevante ainda é o fato de também promover o congraçamento dos povos de todos os cantos do planeta, representantes de duas centenas de países.
O centenário evento, disputado a cada quatro anos desde 1896, desta vez enfrenta um obstáculo pavoroso: a temível e mortal pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Nessa guerra, perdeu a primeira batalha quando teve de adiar as disputas do ano passado para julho próximo.
A Olimpíada de Tóquio continua castigada pela pandemia. A Covid-19 insiste em desenhar uma interrogação no debate sobre a realização ou não dos Jogos. As incertezas martelam a cabeça dos interessados no tema, faltando dois meses para o desfile de abertura.
O risco à saúde provocado pelo coronavírus exige uma avaliação responsável e cuidadosa ao extremo, desprovida de interesses escusos (entre os quais lucros astronômicos) para que seja levado a sério qualquer plano de garantia de segurança nos Jogos. É repugnante admitir a chance, mesmo que remotíssima, de qualquer jogo de interesse envolvendo a Olimpíada.
A saúde de ninguém, dentro do Japão e, depois dos Jogos, fora daquele país, deve correr risco por ocorrências geradas a partir do evento olímpico. Por isso, vale aqui a comparação do copo com água até o meio com as opiniões dos dirigentes esportivos e políticos japoneses que têm a responsabilidade da decisão sobre os Jogos.
Alguns deles podem apontar que o copo está cheio, considerando a parte com água. Seriam eles prováveis interesseiros que fecham os olhos para os riscos da pandemia ou apenas pessoas otimistas? Outros veem o copo vazio. Seriam os céticos ou aqueles que temem contaminação, levando em conta informações gerais sobre a pandemia?
Há ainda aqueles coerentes com a realidade da exposição do copo, nem cheio nem vazio. A tendência destes, no caso da Olimpíada de Tóquio, é buscar dados mais esclarecedores e transparentes para entendimento da complexidade da situação.
A tendência destes é torcer por uma solução adequada e ideal (pode ser até o cancelamento do evento, independentemente dos prejuízos) para a segurança de todos os envolvidos nos Jogos. É neles que deposito minha confiança. A Olimpíada gera patrocínios exuberantes. Os olhos do mundo se põem sobre ela, mas a relevância dos recursos envolvidos a tornam atrativa para todos os tipos de interesses.
A população japonesa, receosa com a possibilidade de desdobramento da pandemia para uma situação mais crítica do que a atual, está mudando sua avaliação. Pesquisas indicam que a maioria dos anfitriões agora quer o cancelamento ou um novo adiamento, mesmo diante de um evento que, provavelmente, ocorrerá sem torcedores nas arquibancadas, por precaução contra o vírus. Várias regiões do Japão, inclusive a de Tóquio, estão sob estado de emergência.
Pressionado entre a pandemia e o pouco tempo até a abertura das disputas daqui a cerca de 60 dias, o COI (Comitê Olímpico Internacional) está disposto a manter o calendário. O vice-presidente da entidade, John Coates, que supervisiona os preparativos olímpicos, disse que os Jogos acontecerão mesmo que haja um estado de emergência.
O cartola acrescentou que os planos de que a organização dispõe para garantir a segurança e a proteção dos atletas e da população do Japão se baseiam nas "piores circunstâncias possíveis". Ele nada falou especificamente sobre os riscos de o encontro das delegações servir para possível propagação mundial de variantes do coronavírus.
Transparência de dados é vital em impasse no debate de evento de tal proporção. Sem garantia de 100%, nenhum plano é seguro. Envolver 1% de risco já é uma porta sem trava, aberta para o risco de mortes.
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