Em meio ao escandaloso conflito que se arrasta pelos últimos cinco anos, manchando as disputas do boxe olímpico com suspeitas de manipulação de resultados de lutas, a modalidade busca se consolidar no Brasil como um "esporte de medalhas".
Na história das Olimpíadas, o Brasil teve durante anos apenas um bronze, conquistado nos Jogos no México-1968, a badalada ”medalha do Servílio de Oliveira". Depois, veio a estiagem, superada apenas em Londres-2012, com uma prata e dois bronzes, chegando ao primeiro ouro no Rio-2016, e avançando para mais um ouro, uma prata e um bronze, recentemente, em Tóquio, nos Jogos que haviam sido adiados de meados de 2020 para 2021.
Nesta etapa de ascensão, quando parece consolidar um salto técnico, o boxe do Brasil tem pela frente o embaçado cenário das acusações do COI (Comitê Olímpico Internacional) contra atividades suspeitas de corrupção da Aiba (Associação Internacional de Boxe), a entidade que foi afastada da organização dos torneios olímpicos da modalidade depois de 2016.
No caldo das investigações, ainda não concluídas e sem provas concretas de possíveis crimes e ações ilícitas da Aiba, as medalhas brasileiras passaram longe das apurações. Em contrapartida, dois juízes nacionais —Jones Kennedy do Rosário e Marcela Patrícia— e o ex-presidente da CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe) Luiz Boselli estão figurando em inquéritos.
Por enquanto, nenhum apontamento grave contra qualquer um deles. Jones Kennedy e Marcela, por exemplo, foram incluídos na lista porque todos os escalados no Rio-2016 também foram. Não escapou ninguém daqueles Jogos no Brasil para que o processo seja completo e não deixe margem à dúvida.
O caso de Boselli é anterior às Olimpíadas do Rio, vem da época em que ele deixou a CBBoxe e aceitou convite para trabalhar na Aiba. O ex-dirigente afirma que não tinha influência na escalação de árbitros e jurados. Tudo era feito por computador.
Apenas adaptações eram feitas, como em coincidências na escala de árbitros da mesma região dos pugilistas envolvidos na luta. Depois de convocações para atuar em Olimpíadas a partir de Atlanta-1996, hoje, aos 64 anos, Boselli está distante do boxe e ressalta que não sofreu nenhum tipo de punição. Aposentou-se.
Quanto aos Jogos do Rio, o ex-cartola ressalta também que não estava lá, sendo essa a sua maior prova de inocência, pois não fazia parte de nenhum esquema, se é que havia algum.
Marcela já voltou a ser escalada para atuar em torneios nacionais, ao contrário de Jones Kennedy, ainda longe dos ringues da confederação.
O atual presidente da CBBoxe, Marcos Candido Brito, afirma que os desentendimentos entre COI e Aiba não causam preocupação a ponto de o pugilismo ser banido das Olimpíadas. Confusão desse tipo, segundo ele, só provoca especulação e ansiedade até o relatório final das investigações em andamento.
Mesmo que algo venha a ser comprovado, ele acredita que não atingirá a Aiba em si, mas talvez algumas pessoas dentro da organização. Dessa forma, a CBBoxe continua com sua rotina e planeja dar um novo salto de progresso, independentemente dos conflitos no plano internacional.
O Brasil pretende promover torneios de boxe com participação de 12 ou mais países e também organizar cursos para formação de juízes e árbitros. A ideia é colocar esse plano em ação já no ano que vem. Bons julgadores, dentro e fora dos ringues, são importantes para a evolução do boxe. Além de dar credibilidade ao esporte.
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