Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Elio Gaspari
Descrição de chapéu Eleições 2018

Barbosa pode ser o novo, desde que não seja relíquia para ser levada em procissão

Se denunciar tudo que o incomoda, o Brasil ganha; se espera cortejo, todo mundo perde, inclusive ele

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Joaquim Barbosa tem tudo para ser o “novo” na próxima disputa pela Presidência. No Supremo Tribunal Federal foi sua mão de ferro que garantiu o encarceramento dos larápios do mensalão, abrindo a temporada de predominância de setores do Judiciário sobre a corrupção. Condenando a articulação que depôs Dilma Rousseff, afastou-se do governo de Michel Temer. Nunca foi candidato a cargo eletivo e não tinha base partidária.

Joaquim Barbosa, possível presidenciável do PSB e ministro aposentado do STF
Joaquim Barbosa, possível presidenciável do PSB e ministro aposentado do STF - Ueslei Marcelino/Reuters

Com essa biografia, o doutor admitiu a hipótese de ser candidato e filiou-se ao PSB. Quando fez isso, sabia que esse partido é “socialista” no nome, mas poucas são as diferenças entre ele e os demais. Menos de uma semana depois, revelou que vê dificuldades para sua candidatura, quer por causa das articulações estaduais quer por suas próprias incertezas.

A menos que as contrariedades sejam sinceras e essenciais, negaças de candidatos são coisa comum, e esses obstáculos acabam mostrando-se irrelevantes. Essa circunstância faz a diferença entre o candidato que está disposto a ir para a estrada e aquele que pretende ser carregado num andor. Na história do Brasil, só o general Emílio Médici chegou à Presidência sem se mexer, obrigando o Alto Comando do Exército a carregá-lo nos ombros.

Num regime democrático não há andores. Tancredo Neves, numa sucessão embaralhada como a de hoje, construiu sua candidatura milimetricamente, encarnando a redemocratização. As macumbas de todos os partidos contra Barbosa são coisas do velho contra o novo. Ou ele dá um passo adiante e diz a que vem ou fritam-no. Quando ele não opina sobre a reforma da Previdência (seja qual for) porque não é candidato, ofende a plateia. Ele quer ser candidato e tem opinião sobre a Previdência, mas não quis se expor, usando um argumento do velho.

Numa eleição presidencial a biografia vale muito, mas o desempenho durante a campanha acaba sendo essencial. Mário Covas e Ulysses Guimarães eram melhores candidatos que Fernando Collor na eleição de 1989, mas não chegaram ao segundo turno. Asfixiaram-se na poeira de uma campanha em que os eleitores compraram um gato velho como se fosse lebre nova. Tinham tempo de televisão e bases partidárias, mas elas de nada serviram.

Basta ver o que acontece no Congresso, no Planalto e até mesmo no Supremo para se perceber que um sistema político viciado tenta blindar-se impedindo que haja algo de novo na urna de outubro.
Se Joaquim Barbosa entrar na disputa disposto a denunciar tudo que o incomoda, a começar pelo coronelismo político, o Brasil ganha, pois o que se quer do “novo” são novas atitudes. Se o que ele espera são palafreneiros conduzindo seu cortejo, todo mundo perde, inclusive ele.
 

Alckmin fez da limonada um limão

Com a rapidez de um craque, o ex-governador Geraldo Alckmin foi na bola da derrota de Aécio Neves no Supremo Tribunal Federal e disse que era “evidente” a inconveniência de que ele se candidatasse a qualquer cargo em outubro. Sugeriu que já dissera isso ao senador.
 

Alckmin teria ajudado o partido, a política e a própria biografia se tivesse dado tamanha demonstração de coragem em novembro passado, quando o “evidente” já era ululante e o coronel Aécio deu uma carteirada no senador Tasso Jereissati, derrubando-o da presidência interina do PSDB. Cinco meses depois, com

Aécio levado ao patíbulo do Supremo, seu gesto assemelhou-se ao comportamento que o jornalista americano atribui aos editorialistas da imprensa: “Depois da batalha eles vão ao campo e matam os feridos”.

Mendonça na vice

O PSDB tem o nome do deputado Mendonça Filho (DEM-PE) na prateleira de temperos para a vice de Geraldo Alckmin.

É nordestino e passou incólume pelo Ministério da Educação de Temer. Depende apenas da desistência do sonho presidencial de Rodrigo Maia.

Saúde política

O Idec e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) contestarão junto à Comissão de Ética Pública da Presidência a indicação do advogado Rogério Scarabel para uma diretoria da Agência Nacional de Saúde.

O doutor é “sócio coordenador” da área hospitalar e de saúde de um escritório cearense que, nas suas palavras, representa “interesses de empresas perante a ANS”.

O jeitão de porta giratória que uma indicação dessas carrega acaba gerando situações constrangedoras, como a que foi submetido o senador Eunício de Oliveira (MDB-CE) há alguns dias no aeroporto do Dubai, onde foi insultado por um brasileiro mal-educado.

Nikki Haley


A caótica Casa Branca do Trumpistão tomou um troco da embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas. Disseram que havia entendido mal uma conversa com Trump e ela devolveu: “Com todo respeito, não fiz confusão alguma”. Ficou sem tréplica.

Aos 46 anos, filha de professores indianos, Haley governou a Carolina do Sul, é dura como pedra e, segundo um colaborador de Trump, “tem a ambição de Lúcifer”.
Republicana, vinda do meio empresarial onde cresceu às próprias custas, Haley pode ser o coringa do seu partido caso Trump naufrague.

Na audiência

Seria divertido ver Dilma Rousseff na audiência do julgamento de Aécio Neves no Supremo Tribunal Federal.

A senhora foi deposta, mas sua honorabilidade está intacta.

Lula e Hopkins

As repórteres Daniela Lima e Marina Dias revelaram que em 2012, quando penava a quimioterapia de um câncer na laringe, Lula teve na cabeceira o livro “Roosevelt e Hopkins - Uma História da Segunda Guerra Mundial”. Trata-se de um grande livro que narra a amizade e a confiança mútua de duas grandes figuras.

Tudo o que faltou a Lula no Planalto foi um Harry Hopkins. Ele era um assistente social de origem humilde.

Juntou-se ao aristocrático Franklin Roosevelt e foi a alma dos programas sociais que tiraram a economia americana da Depressão. Entre a hora em que Hopkins expôs a Roosevelt uma iniciativa para dar emprego a 4 milhões de pessoas e o momento em que o dinheiro (US$ 4 bilhões de hoje) foi colocado à sua disposição, passaram-se apenas 40 dias.

Ele gastou muito mais que isso, porém empregou 8,5 milhões de pessoas. Hopkins morava na Casa Branca e mandou como poucos. Quando morreu, em 1946, seu patrimônio líquido equivalia a US$ 13 mil de hoje.

(Hopkins foi o principal articulador da aliança de Stalin com Roosevelt e teve a graça de visitar o bunker de Hitler pouco depois de seu suicídio. Levou consigo alguns livros do Führer.)

Mistério

Ladrões roubaram pastas e objetos que estavam no carro de um assessor de Lula, em Curitiba. No meio dos papéis estava o seu passaporte.

É verdade que ele não é mais um “ser humano”, mas os outros bípedes deixam o passaporte em casa ou no escritório e só o tiram da gaveta quando decidem viajar ao exterior.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.