Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Descrição de chapéu Itamaraty

Retardatária, longa e professoral, carta de Bolsonaro a Biden não servirá para nada

Foi-se o tempo em que o Itamaraty fazia o dever de casa

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Os diplomatas estrangeiros costumavam reconhecer o profissionalismo da chancelaria brasileira repetindo que “o Itamaraty não improvisa”. Foi-se o tempo em que se fazia o dever de casa. O ministro Ernesto Araújo e Bolsonaro produziram uma desastrosa carta de felicitações a Joe Biden. Retardatária, longa e professoral, servirá para nada.

Se o doutor Araújo e o pelotão palaciano fizessem o dever de casa, teriam consultado a carta de felicitações do presidente Ernesto Geisel ao americano Jimmy Carter em 1977. Durante a campanha eleitoral, Carter havia cuspido mais fogo contra o governo brasileiro que Biden. Um de seus colaboradores, Brady Tyson, havia sido expulso do Brasil.

A carta de Bolsonaro tem 771 palavras, a de Geisel tinha metade disso, era gentil, porém vaga. Geisel corrigiu a minuta mandada pelo Itamaraty. Nela, felicitaria Carter por assumir “o alto de honroso cargo”. O general cortou o “honroso”. Adiante, mandou colocar um “peço-lhe” onde haviam posto um “rogo”.

O Itamaraty e o Planalto não improvisavam.

Bolsonaro repetiu a lenda segundo a qual os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil. Falso. Foi a Argentina.

Um artigo do diplomata Rodrigo Wiese Randig publicado nos “Cadernos da Fundação Alexandre de Gusmão” já demonstrou que o governo da Argentina reconheceu o Brasil no dia 25 de junho de 1823 e seu representante entregou as credenciais em agosto. Os Estados Unidos só reconheceram a independência um ano depois, e o ministro brasileiro entregou suas credenciais ao presidente James Monroe no dia 26 de maio de 1824.

Placas da memória

Cemitérios também guardam a história dos povos. O de Arlington, na Virgínia, era a fazenda da família do general Robert Lee, que comandou as tropas da secessão sulista. Inicialmente, dava sepultura aos soldados do Norte.

Alguém poderia colocar umas placas em alguns cemitérios do Amazonas. Elas diriam o seguinte:
“Sendo governador do estado o senhor Wilson Miranda Lima e ministro da Saúde o general Eduardo Pazuello, aqui foram sepultados cidadãos que morreram asfixiados por falta de oxigênio durante a pandemia de 2020/2021”.

Impeachment

Quem conhece a Câmara faz um raciocínio aritmético.

Quem acha que Arthur Lira vem da mesma cepa que Eduardo Cunha pode estar fazendo a escolha certa se dá de barato que o Planalto cumprirá tudo o que combina com ele.

Se, por hipótese, essa pessoa acha que pode não cumprir o combinado, deve lembrar o que aconteceu a Dilma Rousseff.

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