Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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As travas de Dweck são preventivas

O ministério da Gestão evita em 2023 o escândalo de 2026

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O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, está com duas panelas no fogo. Numa, sofre o impacto das investigações que envolvem a compra, pelo governo federal, de kits de robótica para escolas de Alagoas e Pernambuco que não tinham estrutura e, num caso, nem água. É desnecessário lembrar que os kits estavam superfaturados.

Noutra panela está a briga por nomeações. As repórteres Catia Seabra e Julia Chaib revelaram que as queixas do centrão concentram-se na ministra Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos. Trata-se de uma servidora de perfil técnico, pessoalmente discreta. Ela teria emperrado nomeações na Secretaria do Patrimônio da União. Logo na repartição que leva o nome do Patrimônio da Viúva. As queixas ramificam-se para uma fundação de previdência e estendem-se para o Ministério da Saúde.

Ganha um fim de semana em Caracas quem for capaz de enunciar o questionamento de uma só política pública envolvida nessas disputas. Quase sempre as queixas estão associadas ao preenchimento de cargos que têm chaves de cofres.

Lula ao lado de Arthur Lira em encontro no Palácio do Planalto - Adriano Machado-11.jan.23/Reuters

O governo de Lula 3 é relativamente novo, mas o centrão, com suas obras e suas pompas, é velho. As duas panelas de Lira, contudo, trazem um aviso. Toda roubalheira tem um prazo de maturação. Geralmente, ele vai de dois a três anos. Quando nasce, é apenas uma nomeação. Depois, vem um convênio e uma compra. Finalmente, chega a Polícia Federal e acha até um cofre com uma pequena fortuna na casa de um suspeito. Tome-se como exemplo o caso dos kits de robótica.

Primeiro, sabe-se lá quando, foi nomeado algum amigo para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o benevolente FNDE. Depois, entre 2019 e 2020 as verbas foram liberadas e compraram-se os kits. Em abril de 2022, quatro repórteres da agência Pública mostraram que R$ 54 milhões do FNDE foram para aliados alagoanos de Lira, sob a capa do orçamento secreto. O repórter Paulo Saldaña mostrou que na celebrada Canapi, feudo alagoano dos Malta, chegaram 330 kits que custaram R$ 5,4 milhões. Canapi tinha 35 escolas, nenhuma com laboratório de ciência e metade sem conexão com a internet.

Carimbada a roubalheira, coisa de R$ 26 milhões, a Polícia Federal entrou no caso e ele reapareceu, um ano depois da denúncia e provavelmente dois ou três anos depois da nomeação dos amigos para o FNDE. A Operação Hefesto já achou R$ 4,4 milhões em 27 endereços.

Aquilo que hoje parece ser má vontade da ministra Esther Dweck para atender nomeações para cargos no Serviço do Patrimônio da União ou em fundos de pensões é apenas zelo. Nada tem a ver com falta de coordenação entre os acordos feitos no Planalto e nomeações travadas no Ministério da Gestão. Se em algum momento tivessem sido travadas nomeações para o FNDE, Lira não estaria passando hoje pelo dissabor de ver seu nome associado às conexões da escalafobética compra dos kits de robótica.

Uma nomeação travada em junho de 2023 pode estar evitando o escândalo de 2026. Existem formas decentes para se ganhar dinheiro.

Se há nomeações travadas para cargos no Serviço do Patrimônio da União e se algum parlamentar está aborrecido com isso, a solução é simples: basta que se divulgue o currículo do candidato preterido. Não precisa dizer seu nome, basta o currículo.

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